Tenho lido e comentado no meu Instagram @lya.luft, trechos breves de livros meus como As Coisas Humanas e A Casa Inventada.
Na Casa, pequena obra de ficção, invento uma personagem, Penelope, que tem como amiga, alter ego ou como companheira seu reflexo no espelho, a que chama Pandora.
Para quem não lembra, Pandora foi mandada por seu pai, Zeus, rei do Olimpo na mitologia grega, para um possível marido, levando como dote uma caixinha, e a ordem: “Não abra!”
Como eu também faria, a moça abriu a caixa e dela saíram voando os males do mundo.
Não sei se faz parte da lenda, mas em algum lugar li que bem no fundo da caixinha ficou escondida uma pálida Esperança.
Por isso gosto da Pandora do espelho da minha personagem, que quer construir ou inventar a sua casa. A casa da vida, a casa da alma. Com múltiplas e difíceis escolhas à frente: operários, materiais, prazos, formas. Em última análise seria uma aventura.
Primeiro a porta, fascinante e ameaçadora: o que haverá por trás dela? Depois abre-se um corredor, com espelhos nas paredes... com portas que dão para quartos e salas, porão e, finalmente, nos fundos, o jardim secreto, onde tudo acaba.
Antes se passa pela sala da família, onde perduram falas, gestos, rostos ou máscaras, afetos e rancores, falsidade e amor. Palavras como plumas ou punhais... segredos nunca revelados.
Depois, o quarto das crianças, que desenham nas paredes seus sonhos e medos e projetos. O quarto do casal de que pouco se sabe: paixões e segredos, perfídias e ternuras, filhos e traições, lágrimas no escuro.
Finalmente, depois do porão das aflições onde ecoam soluços, mas a gente diz “ é o vento”..., vem o pátio de sol e sombras, com três árvores ao fundo, um muro meio arruinado e encostada nele uma precária escadinha que parece não levar a lugar algum.
Essa será talvez a hora mais interessante.
Atenção! Na construção da casa da vida, não somos inteiramente responsáveis nem donos de nossas escolhas: pois não somos nem engenheiros nem arquitetos.
Somos amadores.