Seguidamente me perguntam em entrevistas online ou por telefone o que acho da pandemia e da quarentena. Se estou otimista quanto a uma pós-pandemia. Não consigo dar respostas boazinhas ou consoladoras. Acho tudo horrível, preocupante, desumano e ameaçador.
Quarentena para uma velha dama que já pouco saía de casa não é, pessoalmente, um drama, só a falta de conviver com família e amigos me pesa. Mas me aflijo por mim, por nós aqui. Somos pensamento e tristeza e dor pela imensa dor do mundo. Pelas confusões, algumas inacreditáveis, na mistura de saúde e política, de boa vontade e incompetência, de poder e irresponsabilidade.
Pressões muito compreensíveis, mas perniciosas, levam a um abre e fecha meio desvairado, criando mais casos, doentes e mortos, perplexidade e aflição.
Parece que ninguém sabe direito o que fazer. O menor sinal da ciência de que haverá uma possível vacina justifica mais saída, relaxamento, otimismo fatal. Os céticos são acusados de sombrios e amargurados, criticados como se estivessem atrasando a cura. “Queremos nossas vidas de volta!” Eu também. Mas receio que aquela vida não retorne, e aquele mundo também não.
Teremos de reinventar, reconstruir, redescobrir e, finalmente, administrar algo diferente e talvez não muito bom: pobreza, suspeitas, xenofobias, revolta. Desculpem, a vida não é justa.
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Para terminar com um sorriso ao menos, falo em Melanie e Penelope, pequenas spitz que estão comigo o dia todo: de noite, depois do jantar, Vicente e eu ainda ficamos um tempo conversando. Quando se aproxima minha hora habitual de ir para o quarto ver minhas séries policiais enquanto Vicente fica um pouco mais vendo notícias ou esporte, as duas “meninas” já estão sentadas junto da minha poltrona, aguardando irem para suas caminhas.
Outro dia comentei com meu marido que ia pregar uma peça nas duas, dizendo para ele em inglês que estava indo dormir, hora em que elas sempre saem em louca disparada para o quarto.
Sem menção de me levantar, apenas disse, em inglês, “darling, now I’m going to bed”. Imediatamente, Melanie e Penelope saíram em disparada até o quarto. Fiquei sem palavras.
E já avisei: se qualquer hora me responderem “yes, mom” quando eu lhes disser alguma coisa, monto na minha vassoura e saio voando pela janela.