Anda difícil demais, nestes tempos, dar sentido a tantas coisas que nos acontecem. Digo "nos acontecem" porque tudo ou quase tudo deste mundo chega a nossa casa por TV, computador ou iPhone sempre que queremos... e queremos quase sempre.
Como agora, com a intensificação da coisa política, que sempre me assusta e intriga. Quem, como, quando, onde, e por que motivo? Quem vai melhorar a cidade, o Estado, o país, o mundo? Por todas as loucuras que se desenrolam onde menos esperávamos (tiroteio na civilizadíssima Toronto, gente morrendo assada na linda Grécia, comemorações na França virando pancadaria, o Japão morrendo de calor, nos Estados Unidos temos o Trump. Todo dia, dezenas de assassinatos aqui no Brasil, confusões jurídicas e políticas), cadê os líderes sensatos, poderosos, honradíssimos, cadê quem nos ajude a refazer este Brasil tão descosturado?
A vida é bela e difícil, ninguém controla a vida, isso a gente sabe. Mas podia ser um pouco menos enigmática.
Não sei. Aliás, nunca soube e, quando acreditei, em geral, me desiludi. Mas continuo tendo esperança, e desejo, ardentemente, que a coisa melhore, que as pessoas parem de querer sair do país, que não fiquemos só nas mãos dos corruptos ou sonsos ou incompetentes. Perguntam se tenho preconceito contra política. (Uma de minhas netas, quando pequena, certa vez perguntou se eu tinha preconceito. Respondi, muito sincera, que sim, tenho preconceito contra mau caráter, falsidade e burrice. Devo ter outros, mas esses já me bastam.)
Sobre política, escrevi muito modestamente em Paisagem Brasileira: dor e amor pelo meu país. Prefiro falar de gente. O que não é menos complicado, mas aí eu me entendo um pouco mais. Porque gente sempre foi meu fascínio, objeto de meus tantos livros, de minha eterna contemplação e estranheza – porque gente é bicho muito esquisito.
E porque a vida é bela e difícil, ninguém controla a vida, isso a gente sabe. Mas podia ser um pouco menos enigmática. E eu gosto disso. Eu iria entregar ao editor meu primeiro romance, As Parceiras, então decidi tirar os parágrafos finais, muito explicativos. Vai ficar muito mais interessante, pensei. E foi, e causou aflição a muitos vestibulandos quando o livro esteve em lista de leituras obrigatórias. O não explicado, não entendido, exige que a gente aplique sensibilidade e intuição, com alguma liberdade: susto.
Pois então eu deveria, com tantos outros da minha raça mental ou emocional ou seja o que for, andar animadíssima. Porque quase tudo ao redor carece de significado tranquilizador. Os males pelo planeta se acumulam, o gigantesco iceberg na Groenlândia, a cessação ou não das tramas nucleares na Coreia do Norte, o misterioso veneno que alguém anda largando por ruas bucólicas da Inglaterra, as elucubrações trumpianas e os caminhos desta minha amadíssima pátria. Sem falar nas complicações da chamada "nova família", que parece de verdade mudar – mas as emoções humanas não mudam.
Enfim, alguém me ajude a entender o mundo, como minha mãe resolveu lindamente num certo momento em que, olhando as árvores do terraço de casa, escutando e vendo aproximar-se um vendaval com aqueles rumores das folhagens, ela botou a mão no meu ombro e disse: "Waldrausch": rumor do bosque. E achei lindo, e me emociono até agora. Mas e o mundo, o Brasil, e tudo, quem bota a mão no meu ombro e me ilumina?