Nem todos vão concordar comigo. Talvez a maioria discorde. Mas cada vez mais me convenço de que na família, no município, no Estado e no país, nas escolas e empresas e em vários grupos, sem alguma autoridade, sem respeito e convicção de acerto ou erro numa liderança, não existe democracia.
Nestes dias, mais do que nunca, sofremos pela ausência de lideranças firmes, lúcidas e livres, que desenhem algumas linhas na confusão e abram mesmo que ao longe algum horizonte que nos oriente.
Mesmo que hoje não falte combustível, faltam tranquilidade, confiança, esperança. Sem falar em emprego, mínima dignidade para todos, justiça verdadeira.
Autoridades sem medo nem necessidade de agradar a uns e ofender outros: uma situação em que a palavra e ideia “democracia” não seja tão abusada como vem sendo.
Como numa família, base de tudo mesmo nos duros tempos de transformações radicais, o bom convívio e a certeza de abrigo e aceitação não se baseiam no “cada um faz o que bem entende”, mas em acordos, tolerâncias, afeto e respeito.
Assim, num país, sobretudo em crise quase permanente, a liderança com bom senso e a autoridade com fundamento são essenciais: não é o que se vê. Pelo menos aqui do meu recolhimento, o que vejo são acusações, traições, invencionices, afirmações e negativas quase simultâneas, e a geração de um cansaço e descrença que certamente vão minando indivíduos, grupos, entidades.
Mesmo que hoje não falte combustível, faltam tranquilidade, confiança, esperança. Sem falar em emprego, mínima dignidade para todos, justiça verdadeira, busca de melhor desempenho e retribuição e, em última análise, algum tipo dessa palavra tão usada e tão utópica chamada “felicidade”. Que significa poder funcionar em todos os setores da vida com alguma ordem, que por sua vez necessita de hierarquia e, de novo, autoridade. Certamente vários graus de “autoridades”, que estimulem, orientem, aplaudam e atendam a todos os níveis de trabalho, vivências, progresso, conscientização de valores que formam uma família, a escola, um povo.
E aí entra a moralidade, que não se confunde com moralismo. Não regras baseadas em preconceito, mas em respeito pela decência, competência, cuidado e trabalho dos que ocupam cargos de poder – mas que não sacrificariam tudo para manter esse poder e seu cortejo de privilégios. Se houvesse dignidade, dos mais baixos aos mais altos escalões, não haveria insegurança e desespero, que levam a desatinos e prejuízos gerais.
Vivemos um tempo de confusão e impasse até em nossos conceitos e esquecemos que autoridade não é violência, mas desejo do bem geral, essência da democracia.