Começa a se configurar com clareza o retorno dos encontros ao vivo. Máscaras, distanciamento, vacina, tudo isso está ainda no cardápio; mas estamos ganhando a vivacidade do encontro. Estamos vencendo a pandemia contra o boicote à ciência, contra as fake news distribuídas profissionalmente, contra a truculência programática do governo federal.
Na Feira agora, por exemplo. Que maravilha encontrar, não os que eu já sabia que ia encontrar, mas os que não suspeitava e apareceram por lá. Eu vi sorriso até através das máscaras, porque vi os olhos, as rugas, o jeito de corpo de amigos, conhecidos, de todo mundo.
Na quinta, é bem provável que aconteça um reencontro com um grupo de amigos com quem eu almoço todas as quintas-feiras possíveis desde 1993 — com o detalhe de que o grupo começou ainda antes disso. Marcamos um lugar especial (agora que fechou as portas o restaurante Copacabana, ali na praça Garibaldi, e nos privou de um local certo) para nos ver de novo, no mesmo meio-dia de uma quinta, sempre sob as bênçãos de nosso chefe espiritual, o professor Luiz Osvaldo Leite, que aniversariou esses dias. 88 anos!
O que vamos ver, viver, presenciar, nos próximos meses? Foi tanta tristeza até aqui, que temos todos um imenso cardápio de carências para suprir. O encontro com os livros na praça voltou a acontecer; com alguns pudemos interagir lá mesmo.
Olhar para agora mesmo: sábado que vem tem aniversário de 50 anos do primeiro movimento das engrenagens que resultaram na instauração do 20 de novembro como o Dia da Consciência Negra. Entre eles estava a figura de Oliveira Silveira, poeta, gaúcho. Meio século de inteligência crítica viva, numa ação política para quem está vivo.
Olhar para diante, para o novo ano que se avizinha. Ano do bicentenário da Independência, ano de eleição que nos permitirá dar um passo para fora dessa rota infeliz, que faz até gente experiente defender fake news como liberdade de expressão, para espanto, desconsolo e tristeza de todo mundo que ainda mantém esperança na volta à normalidade após a destruição das instituições que temos visto desde a posse do atual presidente.
Poder olhar para diante: o valor da esperança é este. Nos vemos em seguida.