Os jornais e a mídia em geral deram conta de um caso singelo, semana passada. Em Goiatuba, Goiás, um pastor (de gente, não de animais) ia morrendo em consequência da covid e avisou para a esposa e fiéis que não permitissem o enterro de seu corpo, porque ao terceiro dia ele ressuscitaria, conforme Deus o tinha avisado.
O pessoal armou tudo como este senhor, Huber Rodrigues, queria, e ao terceiro dia foram conferir o que havia acontecido. Abriram o caixão e, bem, ele estava morto mesmo. Alguém qualificou o caso como a primeira fake news póstuma.
Nada tenho contra as crenças das pessoas, desde que tomadas e levadas como opções privadas, individuais ou familiares. Fala com Deus ou com deuses? Sem problema. Quer deixar de ir ao médico e assim encaminhar-se para o Além, ok. Mas se qualquer dessas hipóteses se referir a terceiros ou quiser se arvorar a ser regra geral, negativo, nada feito. A laicidade do Estado e a primazia da razão e da ciência é que valem — e o combate à atual pandemia mostra bem o valor disso.
Relaciono isso com o que pretende agora a Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, esta mui leal e valerosa terra que já conheceu educadores de alta capacidade, como Antônio Álvares Coruja, Luciana de Abreu, Apolinário Porto Alegre, Emílio Meyer, Ernani Maria Fiori e Zilá Totta, para citar apenas gente já falecida.
A Smed defende que o adequado agora é substituir Filosofia, na rede municipal, por Religião. Sim, senhores e senhoras, religião. Que os currículos e práticas escolares devam sempre ser revistos e ajustados, não há dúvida. Mas que na escola pública deva se retirar aulas de Filosofia para oferecer aulas de Religião, por tutátis! De onde sai essa ideia?
Uma hipótese tem sido murmurada: a de que essa ideia, errada e maléfica, seja um pagamento de campanha do atual prefeito. Grupos religiosos ganhariam espaço para doutrinar em sala de aula, como compensação pelo apoio. Não quero crer que tal seja verdade; mas queria muito conhecer algum motivo razoável, qualquer motivo minimamente aceitável, para esse descalabro. Haverá?