A Juliana Bublitz teve a gentileza de me perguntar pelo meu já velho Dicionário de Porto-alegrês e publicar uma nota muito simpática sobre ele, esses dias, aqui na Zero mesmo, na prestigiosa página 2. Ela tinha me ouvido falar sobre o fato de eu estar revisando o material, para uma nova edição, aproveitando a circunstância do aniversário de Porto Alegre, em março do ano que vem, quando sopraremos imaginárias 250 velinhas.
Onde ela me ouviu? No Sarau Elétrico, evento que tem a mesma idade da primeira edição do meu dicionário. Na pandemia, temos feito o Sarau virtualmente. A Katia Suman, o Diego Grando e eu gravamos toda semana, desde março do ano passado, e mandamos ao ar no horário de sempre, terças, 21h – em vez de fazermos a função ao vivo, no Ocidente, ali na esquina mundial entre a Osvaldo Aranha e a João Telles. (Aliás, aproveito para dizer aos interessados que dia 9 de novembro faremos uma tentativa a sério de voltar ao vivo, no Ocidente. Mas vamos manter a transmissão online, porque parece que agora isso vai fazer parte da nossa vida, né? Para sempre?)
O processo de produzir um dicionário é meio alucinado. No meu caso, passei vários anos coletando as palavras e expressões que me pareciam representativas do jeito de falar aqui na cidade – é um dicionário de fala, não de escrita, o que já denuncia seu caráter sempre aproximativo, sempre tentativo, sempre impreciso. Nunca tive total certeza se tudo o que julgo ser a nossa cara falada pertence claramente ao nosso domínio geográfico, mas em compensação desde cedo perdi a ilusão de que fosse possível ter total certeza da origem e da circulação das palavras que ia recolhendo.
Meu dicionário tem me dado alegrias grandes, e pelo jeito ainda vai mais longe esse processo. Agora, passei um mês revisando o que já tinha publicado – a língua falada é dinâmica, os pontos de vista mudam – e acrescentando alguns novos verbetes (uns 70). E renovei o gosto por esse quadro que pintei com as palavras que usamos todos os dias. Aos interessados, aviso que demora um pouco ainda a produção editorial da nova edição, que deve sair no começo do ano que vem – quando talvez até mesmo os rigores do isolamento sejam já uma lembrança torta de um momento ruim do país.