A jornalista Juliana Bublitz colabora com o colunista Tulio Milman, titular deste espaço
Um clássico do final dos anos de 1990, que estourou na lista dos mais vendidos da Feira do Livro e fez a capital gaúcha rir de si mesma, vai ganhar uma nova edição, revisada e, como sempre, cheia de personalidade.
Professor de Literatura da UFRGS, Luís Augusto Fischer, colunista de GZH, acaba de concluir a atualização do seu Dicionário de Porto-Alegrês, lançado originalmente em 1999, pela LPM. No prelo, a obra revisada reúne mais de 1,5 mil verbetes e traduz com leveza e criatividade a forma de falar de quem vive na maior cidade do Estado. Em bom porto-alegrês, já adianto: ficou preza!
Antenado, Fischer decidiu mergulhar outra vez na própria criação de olho nos 250 anos de Porto Alegre, que serão celebrados em março de 2022. Ele lembra de cabeça as 65 expressões incluídas no texto (veja algumas abaixo) e conta como foi o trabalho, prestes a ser publicado:
— Mantenho um exemplar sempre perto de mim, no escritório, e vou anotando ideias. Também tenho um arquivo no celular só para isso. Se estou na rua e ouço alguma coisa interessante, já saio escrevendo. Isso facilitou a revisão, que foi muito legal. Me diverti bastante.
Além de acrescentar novidades, Fischer deu novo contexto aos verbetes antigos. Para quem não conhece, a compilação vai além dos significados das gírias locais. Cada item vem acompanhado de um pequeno texto, e o mestre percebeu que alguns deles traziam comentários hoje deslocados.
— Me dei conta de que havia algumas coisas machistas, que, quando foram escritas, eram invisíveis — explica dicionarista.
Só um gostinho
A pedido da coluna, Fischer nos presenteia com uma pequena amostra do que vem por aí na nova edição do Dicionário de Porto-Alegrês. Dale, professor!
Bota uma manguinha: isso é frase de mãe para filho – tenha ele 7 ou 70 anos – na despedida, quando ele vai sair de casa. Significa levar um casaquinho, um abrigo para a eventual intempérie, para o frio, que como sabemos pode mesmo ser traiçoeiro aqui no paralelo 30 Sul. Ver “Manguinha”.
Deixa quieto: frase que resume toda uma sabedoria de cautela, de aviso, de esperteza: numa situação conflitiva, tensa, alguém diz “Deixa quieto” significando para baixar a bola, deixar pra lá ou pra depois. Mas também pode carregar um aviso de vingança, uma ameaça silenciosa: “Deixa quieto que depois tem a volta”.
Bebaço: aumentativo de “bêbado”, com esse sufixo que tanto apreciamos aqui no sul.
Forno alegre: nome de Porto Alegre nos verões, especialmente naqueles marços arrasadores, em que calor e umidade dão as mãos para destruir as condições de boa civilidade. É termo do século 21, certamente.