O talentoso comunicador Pedro Espinosa, da Rede Atlântida, criou uma brincadeira que acabou virando uma verdadeira febre, badalada pelos ouvintes e também nas redes sociais, sobre os times que os jornalistas esportivos torcem. Coisa dos tempos de hoje. Aqueles baluartes, verdadeiros visionários, que criaram a crônica esportiva nos moldes que conhecemos hoje em dia, em sua grande maioria, nunca escancararam a sua paixão clubística na tela das televisões, nos microfones das rádios ou nas páginas dos jornais.
Nem por isso, essas figuras deixaram de ser profissionais brilhantes. Cito alguns nomes de qualidade indiscutível para embasar a minha tese: Lauro Quadros, Armindo Antônio Ranzolin, Ruy Carlos Ostermamn, Mendes Ribeiro, Cândido Norberto, Pedro Carneiro Pereira, João Carlos Belmonte, Pedro Ernesto Denardin, Silvio Benfica, Antônio Carlos Macedo, entre outros tantos, que nunca precisaram falar sobre a equipe que mais simpatizavam para fazerem grandes coberturas e serem respeitados.
É a velha máxima que eu defendo: se o trabalho está sendo feito de forma profissional, honesta, compromissada e coerente, isso é o que realmente importa no processo. Na real, todos os jornalistas esportivos, por gostarem de futebol, escolheram um time do coração, antes de qualquer coisa. Ou alguém acredita que uma criança na mais tenra idade, já se condicionaria a pensar "vou ser jornalista esportivo e por isso não terei time". O mesmo serve para atleta e árbitro. Lamento informar, mas todo mundo tem uma equipe de futebol de preferência.
Por outro lado, tem muitos profissionais que acham esse fator na atualidade irrelevante e se declaram. Nesta semana, com todo o histórico de repórter competente marcado por grandes coberturas, o jornalista Sérgio Boaz se fardou de gremista. Há mais tempo, Paulo Sant’ana e Kenny Braga eram identificados. Antes, Cid Pinheiro Cabral. Depois, Potter abriu que era colorado. Sem falar em Fabiano Baldasso, Alex Bagé, Duda Garbi, Ramiro Ruschel, Rafael Serra, Raphael Gomes, Leandro Behs, Farid Germano Filho e outros tantos, que também vestiram a camisa dos seus times para produzir conteúdo. Agora, por isso, todo mundo tem de fazer a mesma coisa? Óbvio que não. E está tudo bem.
Também há centenas de jornalistas esportivos, onde me incluo com orgulho nos quase 25 anos de atividade, que preferem continuar trabalhando sem revelar o clube de infância. Posso mudar de ideia? Quem sabe um dia, se achar necessário. No momento atual, não vejo como algo positivo. Principalmente pela rivalidade exagerada. O que eu penso sobre o fato? Creio que na execução do meu trabalho diário, tanto faz deixar claro se sou colorado ou gremista. Ou como diz o Pedro Espinosa no seu personagem: nosso ou deles?
Eu gosto de trabalhar para as duas torcidas. Me criei como repórter da arquibancada no Beira-Rio, no Olímpico, e depois da Arena. No meio do povo. Sempre fui muito respeitado e acarinhado pela galera. Sempre digo que isso é o maior patrimônio do meu trabalho. Sonhava em ser narrador para contar as histórias dos dois lados. Na medida em que eu for escolher um lado publicamente, estaria refratando o outro. É algo natural. Com isso, qualquer coisa que eu dissesse, e não agradasse o lado oposto, pairaria alguma dúvida da minha real intenção. Não gosto disso. Não ajo dessa forma.
Se sem abrir o clube do coração, muitas pessoas já questionam a honestidade dos profissionais, pensando que sempre há uma segunda intensão em tudo o que se fala, imagina dizendo a equipe para qual você torce. Eu respeito muito o meu trabalho e as instituições. Eu não preciso ter lado. De coração aberto, digo que consigo me emocionar com vermelhos e azuis. O fato de ter vivido momentos inesquecíveis no meio das duas grandes torcidas do estado me blindou. Conheci pessoas. Fiz amigos. Criei empatia. Isso sempre será o mais importante para mim.
Antes de tudo, eu nunca fui um torcedor xiita, daqueles que odeia o rival. Em primeiro lugar, torço pelo meu trabalho. Quero fazer o meu melhor, sempre. Para mim, futebol significa trabalhar. E não torcer. Mas é claro que no fundo, eu torço por Grêmio e Inter. E para os demais times do nosso estado, é claro. No Gauchão, eu quero ver o circo pegar fogo. Vibro com a competitividade e espero sempre que os times do interior compliquem a vida da dupla Gre-Nal. Quando os clubes estão bem, é melhor para a minha vida profissional.
Pensem comigo, deixando de lado a paixão: vocês acham que é melhor transmitir um rebaixamento ou um título? Uma grande vitória ou uma derrota fiasquenta? Para quem torce e toca flauta, o bom é ver a conquista do seu time e a derrocara do rival. Quero viver grandes coberturas com os dois lados da moeda. E, pela convivência diária, acabo torcendo pelas pessoas que compõem as centenárias instituições. Por isso, como diz a música dos Tribalistas "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também". Como disse antes: e está tudo bem desse jeito.