Foram quase três horas de decisão, colocando na conta acréscimos, intervalos e os pênaltis que levaram o Real Madrid mais uma vez a uma semifinal na Liga dos Campeões. O 1 a 1 da resistência contra o Manchester City mostrou que mesmo o maior clube do planeta, para seguir em frente, precisa descer ao mundo dos comuns. Porque foi assim que jogou o Real, que tem 14 Champions League na sala de troféus: como um time normal, que poucas vezes é.
O City amassou o Real. Colocou-o dentro de sua área por quase duas horas. Ocupou o campo de ataque, trocou passes, rondou, foi sempre insinuante. Só no tempo normal foram 30 finalizações, 11 delas no gol. O Real teve oito, sendo só três certas. Uma delas acabou em gol de Rodrygo, o guri Champions League. Há jogadores talhados para algumas situações. Rodrygo nasceu para jogar essa competição. Faz com a mesma naturalidade com que atuava no Paulistão contra os Ituanos e São Bentos da vida. O gol dele, logo na largada, sinalizou ao City que a noite seria complicada.
Aliás, nesse gol, ficou claro que até para jogar na retranca é preciso qualidade. O Real inaugurou o "chutão chique". A defesa deu um balão. A bola ganhou os céus do Etihad Stadium e, quando desceu, encontrou o pé de Bellingham. Ele a amorcegou com o pé direito. Deixou-a escapar no limite do controle. Assim, acionou Vini. O cruzamento atravessou a área e encontrou Rodrygo livre. O primeiro arremate, de canela, Ederson salvou no susto. Só que a bola voltou calma no pé do atacante.
O futebol manda mensagens. Um gol desses, tão bafejado pela sorte, já era um recado ao City. A partir daí, o encontro dos dois melhores times do mundo virou um monólogo. Só os ingleses atacavam. O Real montou suas linhas de resistência na frente da área e deixou só Vini mais adiantado (na intermediária de defesa). Aliás, Carlo Ancelotti está descobrindo para a Seleção o novo lugar de Vini, centralizando, gerando jogo em vez de finalizá-lo.
O City só rompeu a defesa do Real aos 30 minutos do segundo tempo, em gol de De Bruyne. Foi o único lance em duas horas que Rüdiger não conseguiu tirar. Até afastou, mas a bola caiu no pé do belga e dali para o gol. Os últimos 15 minutos foram de insistência do City e fibra do Real. A prorrogação foi menos intensa. Nem tinha como ser diferente, com o nível de intensidade do tempo normal.
Vieram os pênaltis. Modrić bateu e Ederson defendeu (confesso que vibrei aqui, lembrando da Copa de 2022). O City estava na frente. Só que apareceu Lunin, o ucraniano que assumiu o gol porque Courtois se machucou e Kepa não segurou a onda. Ele defendeu dois pênaltis. Um quase no modo Robert Renan. O outro, de Kovačić (lembrei da Copa de novo, sempre tem volta). Quem decidiu tudo foi Rüdiger, o herói da resistência do Real e, possivelmente, da 15ª Champions do clube espanhol. Duvida?