Barcelona é, em seu normal, uma cidade agitada. Parece sempre em estado de excitação. O vaivém de grupos de turistas, seja qual for o dia ou a estação, passa a sensação de que esse lugar nunca para. Por isso, estranhei o silêncio que colocou Barcelona — e o Barcelona — para dormir nesta terça-feira (16). Passava das 21h30min aqui quando Ronald Araújo levou cartão vermelho. Pouco antes, a Barceloneta, o bairro praiano em que vivo aqui, havia irrompido em um grito eufórico no gol de Raphinha. Porém, a partir da expulsão, o time catalão foi desmoronando até cair nocauteado pelo PSG. O 4 a 1 coloca ponto final em um conto de fadas que Xavi escrevia.
Havia um otimismo entre os catalães. A virada de 3 a 2 em Paris, a série de 13 de jogos sem perder, sendo os últimos seis com vitórias, a estrela de Xavi, cujas fotos de guri decoram as paredes de La Masia, a guinada numa temporada que estava quase perdida e o surgimento na base de Lamine, Cubarsí, Fermín. Era o roteiro perfeito para os catalães. Até a expulsão de Ronald.
Há um misto de dor pela eliminação e também de crueldade. Ronald Araújo é um dos pilares deste Barcelona. Quando ele arranca como uma fera atrás dos atacantes, chega antes deles e sai com a bola dominada, o Olímpico de Montjuic irrompe em um rugido só de "Uruguajo, uruguajo, uruguajo". Só que, nesta terça, ele chegou um segundo depois e fez a falta em Barcola. Impediu que entrasse livre diante do goleiro, mas isso custou sua expulsão.
O Barcelona vencia por 1 a 0, com Raphinha fazendo o terceiro nos dois jogos. O PSG empatou ainda no primeiro tempo, com Dembelé, logo ele, de passagem opaca pelo Camp Nou e vaido desde que pisou em Barcelona para esse jogo. Vitinha fez 2 a 1 na largada do segundo tempo. Havia os pênaltis, mas ninguém apostava nisso.
O PSG empurrava o Barça contra seu gol. Veio o terceiro, com Mbappé, de pênalti, e no final o quarto, também com ele. A festa foi francesa. Os jogadores foram pular e cantar diante de 4 mil franceses no Olímpico. Aliás, ali foi o único lugar em que Barcelona teve, nesta noite de terça, seu alarido habitual.