Porto Alegre será o primeiro destino internacional da vida do Guaireña Fútbol Club. Sim, o adversário do Inter na quinta-feira (14) realizará sua primeira viagem para fora do Paraguai. O fato de o Beira-Rio ser em um estádio de Copa do Mundo, por onde passaram em 2014 nomes como Van Persie, Robben, Di María e Messi é uma espécie de prêmio extra.
Atual nono colocado no Apertura paraguaio (são 12 clubes), o Guaireña vem de uma vitória no domingo (10). Fez 1 a 0 no Tacuary, fora de casa, com um gol aos 52 minutos do segundo tempo. Carlos Duarte, 39 anos, entrou no segundo tempo para decidir o jogo. Duarte, camisa 10 do time, é uma espécie de símbolo do Guaireña. Afinal, ele veio subindo com o clube desde que deixou de ser amador em 2016. Confira a história do novato visitante.
Até 2016, a Liga Guaireña de Fútbol era uma seleção da província de Guairas que disputava o Campeonato Internacional Interligas, competição semiamadora que corresponde à terceira divisão nacional. Funciona mais ou menos assim: imagina que o Rio Grande do Sul fosse um país, e cada cidade-polo, um Estado. Haveria a seleção de Erechim, a de Passo Fundo, a de Pelotas, a de Santa Maria, a de Caxias, a de Bagé e por aí vai. O campeão dessa competição subiria para a Divisão de Acesso. Foi o que aconteceu com a Liga Guaireña. Quando ela ganhou o título, obteve vaga no Intermédio, a segunda divisão paraguaia. Para isso, precisou se profissionalizar e, no final de 2016, virou Guaireña Fútbol Club. Foram quatro temporadas na segunda divisão até obter o acesso à elite, em 2019.
A temporada 2020 começou com a estreia na elite e visitas dos gigantes paraguaios no modesto Estádio Parque del Guairá, cuja arquibancada de lance único tem o formato de ferradura e abriga 8 mil pessoas. Como é pequeno e não tem iluminação, força o Guaireña a mandar os jogos da Sul-Americana no Defensores del Chaco. Foi assim no 3 a 3 com o Independiente Medellín na última quinta-feira (7), no primeiro jogo internacional da curta vida do clube. Guairá é um Estado localizado na região centro sul do Paraguai, a meio caminho entre Assunção e Ciudad del Este. A casa do Guaireña é Villarrica, capital de Guairá. O clube faz parte de um processo de interiorização do futebol paraguaio, muito concentrado por muitos anos na capital e em suas cidades-satélites, como Luque, por exemplo, onde fica a sede da Conmebol.
SUL-AMERICANA
A participação em 2022 é a segunda do Guaireña na Copa Sul-Americana. Na primeira, em 2021, caiu na fase doméstica, ao ser eliminado pelo River Plate paraguaio. Voltou neste ano à competição e superou, no confronto local, o Nacional, vice-campeão da Libertadores em 2014, quando perdeu o título para o San Lorenzo. Porém, chegar à Sul-Americana está longe de representar um feito no Paraguai neste período pós-pandemia. São quatro vagas na Libertadores e outras quatro na Sul-Americana. Como são 12 clubes na primeira divisão, dois terços deles garantem vaga em alguma competição continental – o que não é muito diferente aqui no Brasil, é bom que se diga, embora o nível técnico do nosso campeonato seja mais elevado.
INVESTIMENTO MODESTO
A estimativa do repórter Darío Ibarra, do jornal ABC Color, de Assunção, é de que os salários mais elevados do Guaireña girem entre US$ 2,5 mil (R$ 11,7 mil) e US$ 3 mil (R$ 14,1 mil). Um padrão muito parecido ao de alguns times do Gauchão. O investimento do clube é baixo. Mesmo assim, fez uma profunda renovação depois de acabar o Clausura 2021 em penúltimo — a vaga na Sul-Americana veio pela tabela anual, somando os dois campeonatos da temporada. Foram buscados nomes rodados e com passagem por clubes da Capital, como o Guaraní e o Sol de América. O nome mais conhecido é Jordan Santacruz, irmão de Roque Santacruz, astro paraguaio e que passou pelo Pelotas no Gauchão 2019.
Há apenas um estrangeiro, o atacante venezuelano Yeiber Murillo, que é reserva. O técnico Troadio Duarte, 44 anos, é um ex-jogador com passagens por clubes menores do Paraguai e do Peru. Em 2013, ele encerrou a carreira e, cinco anos depois, começou sua trajetória como técnico no Guaireña. Seu time é reconhecido no Paraguai por ser cauteloso na defesa e ter vitórias sempre apertadas. Mas raras. A de sábado foi apenas a segunda no ano.