Como a notícia da volta do público à Série A é gigante e rouba toda a atenção do ecossistema do futebol, há um bastidor que precisa ser muito comemorado e sinaliza para passos firmes em torno de uma união. A decisão da volta do público aos estádios foi tomada com a cabeça e não com o fígado. Privilegiou-se o bem comum em vez do interesse individual.
Os paulistas, como o decreto do governador João Dória começa a valer apenas na segunda-feira (4), toparam fazer seus jogos com portões fechados em casa nesta rodada. Houve sensibilidade também para tratar o caso do Bahia. O governador Rui Costa decidiu, pelo aumento no número de casos, que seria inconveniente voltar com torcida agora — no que está certo.
Assim, os clubes toparam adiar a partida do Bahia contra o Ceará. A direção do Bahia aceitou jogar com portões fechados no dia 13, contra o Palmeiras e deixou registrada a necessidade de rediscutir o tema numa reunião no mesmo dia, caso não haja entendimento com o governo estadual.
Todos esses movimentos na reunião do Conselho de Clubes mostram que a pandemia ensinou aos dirigentes que é preciso trabalhar em conjunto e decidir pensando no bem comum. Era preciso retomar a volta do público e, mesmo que não houvesse 100% das sedes com liberação, chegou-se a um denominador comum. Os clubes aprenderam na dor que é preciso se unir.
O desfalque provocado pelos 18 meses de portões fechados foi no cofre de todos — inclusive do Flamengo, que parece viver numa frequência própria. Essa questão do público foi o primeiro exercício para que aprendam a tomar decisões juntos. Ali na frente, isso terá de, obrigatoriamente, ser colocado em prática mais uma vez na negociação dos direitos de transmissão do Brasileirão para o ciclo que começa em 2025.
A Lei do Mandante, recém sancionada pelo Planalto, dá aos time da casa os direitos sobre o jogo. Porém, quem for negociar sozinho suas partidas, perderá dinheiro. Será muito mais rentável e terá muito mais apelo negociar em grupo. Essa, aliás, é a luz que alimenta a minha esperança de que, finalmente, uma liga vire realidade.