O Gauchão começa neste domingo, que promete ser típico de outono, a definir seus rumos. O Inter, às 16h, contra o Juventude, e o Grêmio, às 19h, contra o Caxias, começam a buscar o óbvio quando se trata de Estadual. Ou seja, garantir a vaga na final e disputar o título.
Quando trato como óbvio, nenhum menosprezo à dupla Ca-Ju. Pelo contrário, respeito demais a tradição e a história dos dois clubes de Caxias do Sul. O trabalho desenvolvido tanto no Alfredo Jaconi quando no Centenário é de elevado nível de competência. Mas não podemos negar que, pela estrutura, pelo investimento e pelo gigantismo, a regra é Grêmio e Inter estarem na final. Se Juventude e Caxias começarem, neste domingo, a mudar essa regra, fica o pedido: não acionem o botão de pânico.
Há uma tendência muito grande, na torcida e também na mídia esportiva que a alimenta, de se descortinar sempre uma janela com vista para a terra arrasada. O Gauchão é importante? Sim, evidentemente. Pelo favoritismo da Dupla, é como se fosse uma versão ampliada de Gre-Nal. Por que o campeão leva a coroa e cetro e se torna o maioral do Mampituba para baixo.
Talvez seja esse domínio territorial o alimento da tradição que sustenta os Estaduais, um produto tipicamente nosso e que faz parte da nossa cultura de país continental. Nossa geografia sustenta isso, somos vários países em um só. E cada um deles tem, no futebol e nas suas festas populares, as rivalidades que vicejaram ao longo do século passado e entraram nesse, tão tecnológico como veloz.
Ganhar do principal adversário, é claro, tem grande importância. São essas vitórias que nutrem a paixão dos torcedores, que alimentam a rivalidade e a fazem crescer. Por outro lado, perder para ele ou vê-lo ganhar o Estadual está bem longe de ser um vexame (palavra muito comum no vocabulário do jornalismo esportivo).
Calendário
A razão para não tratar como vexame uma queda no Gauchão é simples: o ano começa com os Estaduais. Só começa. O fim dele ainda está longe e, no caminho até lá, estão competições de vulto nacional, como o Brasileirão e a Copa do Brasil, e continental, como a Libertadores e a Sul-Americana. Portanto, respire e reflita antes de atirar a primeira pedra caso o Grêmio ou Inter comecem neste domingo a se despedir do Gauchão. Mesmo que pareça o fim do mundo. Aliás, você descobrirá com isso que as fronteiras do mundo são mais longínquas do que imagina.
Reforço ainda mais esse pedido de prudência nas análises porque, tanto Grêmio quanto Inter estão em começo de trabalho. Miguel Ángel Ramírez completa neste domingo 54 dias de Inter. O jogo contra o Juventude será seu 10º na beira do campo. Os primeiros sinais da mudança tática que foi contratado para implementar só agora aparecem. Embora ele já fosse cobrado por elas desde a estreia.
No Grêmio, Tiago Nunes é mais novato ainda. Chegou há 10 dias e, neste domingo, no Centenário, comandará seu terceiro jogo. Mesmo que seja nascido e criado aqui nos pagos e conheça nossa forma de pensar e o jeito de jogar do Grêmio, não há milagre em 180 minutos. Pelo menos, não no futebol.
Como já disse, é claro que tem seu valor ganhar o Estadual. Mas é preciso dar a ele o peso exato que tem na temporada. Vai bem longe o tempo em que esse era o principal título que a Dupla disputava. Isso jamais pode ser perdido de vista.
Assim, ninguém deve ser queimado ou cancelado em caso de eliminação. Nem mesmo colocado sob observação. Aliás, talvez você não se lembre, mas em 2010, o Inter perdeu a final do Gauchão. E em 2017, o Grêmio nem à decisão chegou. Mas você se lembra bem do que gremistas e colorados comemoraram depois, não?