A pressa é a maior inimiga de Miguel Ángel Ramírez no Inter. Não a dele, mas a que move a torcida e, também, uma fatia de quem analisa seu trabalho. O espanhol perdeu seu primeiro Gre-Nal, e isso aqui no Rio Grande do Sul, tem um peso enorme. Afinal, vemos o nosso clássico como uma competição paralela. O que ele não deixa de ser. Mesmo que leve do nada a lugar algum, como foi o caso do disputado no sábado.
Vivemos em um país em que o resultado alimenta a análise. Ganhou, vai para o céu. Perdeu, arderá nos porões do inferno. Isso alimenta a pressa que citei antes. E ela é a maior adversária do Inter neste começo da Era Ramírez. Pouco importa que, nesta terça-feira (6), o espanhol tenha completado apenas seu 29º dia no comando e feito 21 sessões de treinos. Importa menos ainda que esteja somente no sexto jogo de um trabalho que muda profundamente a forma de atuar do time, com a implantação de um conceito novo aos jogadores. Futebol é processo, requer repetição, ajuste, correções de rumo. Mesmo depois de alcançado um padrão de jogo e uma produção elevada, essas revisões são imprescindíveis. Ou seja, é um caminho longo e sem fim. O Inter está apenas no começo dele.
É evidente que, com seis jogos apenas, há problemas na mecânica de jogo do Inter. Que precisam ser corrigidos. A saída de bola lenta é um deles. Mas ela é lenta justamente porque os conceitos do jogo de posição ainda estão em fase processamento pelos jogadores. Quem vai dar o passe precisa, necessariamente, de um companheiro para receber. Se ele está marcado, opta-se pela bola de segurança. O que cria o passe para trás e um jogo modorrento. Ramírez precisa, também, encontrar soluções técnicas. Rodinei e Moisés são vigorosos e voluntariosos, mas talvez falte-lhes refino para ser o meia que se exige quando vão por dentro. Talvez seja o momento de fazer Patrick entender que a tarefa que tem hoje é a mesma dos tempos de Abel Braga. Outro ponto central é a primeira função do meio. Rodrigo Dourado já mostrou evolução significativa, mas passa por ele e por seu repertório nortear o time na construção ofensiva.
Esses são apenas alguns pontos que Ramírez terá de atacar. Há muitos outros, certamente. E não há nada de anormal nisso. Trata-se de um time em construção. E construir, no futebol, é muito mais demorado que destruir.