O Ba-Vi de fevereiro, aquele que era para ser da paz e acabou em briga, ainda reflete no Vitória. Só agora os quatro jogadores suspensos, além do técnico Vagner Mancini, poderão voltar. O zagueiro Kanu, o volante Iago, o meia-atacante Rahyner e o atacante Denílson estão liberados para enfrentar o Inter.
Mancini poderá comandar o time na beira do campo, mas algo nele mudou desde aquela tarde de 18 de fevereiro e das cenas que impactaram o país. Sem três titulares, entre eles o craque do time, Neilton, o Vitória começa a disputa com o Inter por vaga nas oitavas. A seguir, veja em sete toques o time que desembarca em Porto Alegre.
Caso Victor Ramos
É bom o Inter fazer boa vantagem em Porto Alegre e amainar a decisão no Barradão. Falar em Inter para os torcedores do Vitória é o mesmo que citar o caso Victor Ramos.
Passado um ano da disputa no Chateau de Betusy, um castelo erguido pela nobreza local e que serve de endereço para o CAS em Lausanne, os baianos ainda não se esqueceram da batalha travada nos tribunais para escapar do rebaixamento, a partir de denúncia de que o zagueiro Victor Ramos estava inscrito de forma irregular pelo clube.
O Inter, no Barradão, virou um inimigo. É bem provável, me confirma por telefone o repórter Rafael Teles, do jornal A Tarde, que os torcedores do Vitória estejam ainda mais acesos do que de costume no dia 19, na partida de volta.
Nêgo
Os torcedores do Vitória se autodefinem como "Nêgo". É comum ecoar no Barradão o grito uníssono e espichado de "Nêêêêêgoooo" para empurra o time. Ele se originaria de uma contração de "rubro-negro". Mas há quem conte outra história, e essa envolve o Grêmio.
Segundo o site Tudo sobre E.C. Vitória, feito por torcedores, o grito surgiu em 1981. O Vitória perdia para perdia para o Grêmio por 1 a 0, e a torcida organizada Vitoraça encheu os pulmões e passou a cantar "Leããããõooo", em referência ao mascote do clube. O restante do estádio ouviu "nêêêêgooo". A partir dali, o apelido colou. É como o colorado para o Inter ou o tricolor para o Grêmio.
Líderes "gaúchos"
As duas principais referências no vestiário do Vitória têm ligação forte com o futebol do interior gaúcho. O goleiro Fernando Miguel é gaúcho de Venâncio Aires e fez boa parte de sua formação no Grêmio. Subiu em 2004, com Adilson Batista, e depois rodou por Brasil-Pel, Lajeadense e Juventude, de onde saiu para o Vitória em 2013.
O volante Uillian Correia não é 100% gaúcho, mas saiu de Fátima do Sul, no Mato Grosso do Sul, para jogar na base do Atlético-PR. Em 2011, aos 21 anos, veio para o Santa Cruz. Jogou dois Gauchões e ainda teve passagem pelo Pelotas antes de rumar para Portugal. Em 2015, depois de ganhar a Copa do Nordeste pelo Ceará, chegou ao Cruzeiro indicado por Vanderlei Luxemburgo. Está em sua segunda temporada no Vitória, onde é ídolo.
Brigões de volta
Muitos apostam que a selvageria e a briga no primeiro Ba-Vi do ano, em fevereiro, tirou o Vitória do prumo no Estadual. O clássico, para quem não se lembra, teve briga entre os jogadores no início do segundo tempo, depois do 1 a 1 do Bahia.
O zagueiro Kanu foi quem pegou a pena mais dura, 11 jogos e 90 dias de suspensão. Yago, Rhayner e Denílson receberam oito jogos. Na sexta-feira, o STJD decidiu retirar a punição de 90 dias de Kanu. Como a suspensão em jogos valia apenas pelo Baiano, eles estão liberados para enfrentar o Inter.
O técnico Vagner Mancini, suspenso por cinco jogos no Estadual, voltará à beira do gramado no Beira-Rio. Mancini foi suspenso por ordenar que um jogador, o zagueiro Bruno Bispo, forçasse a expulsão e deixasse seu time com seis jogadores, obrigando o árbitro a encerrar o jogo.
Neilton, o craque
O principal nome do Vitória neste 2018 é Neilton. Mas ele nem vem para Porto Alegre. O atacante sentiu lesão muscular na coxa e está praticamente fora. Além dele, o atacante Luan, destaque da Copa SP e muito usado na suspensão de Denílson, e o volante Fillipe Soutto, estão fora do jogo.
Mas a ausência mais sentida é mesmo Neilton. Ele vive seu melhor momento na carreira desde que surgiu no Santos como sucessor de Neymar, em 2013. Depois de sair da Vila Belmiro em litígio e acertar-se com o Cruzeiro no ano seguinte, ele passou pelo Botafogo, onde foi destaque na volta à Série A em 2016, e pelo São Paulo.
No ano passado, o Vitória o comprou do Cruzeiro. Não se arrepende. Neilton acaba de ser eleito craque do Baiano e, com 13 gols, é o goleador do time em 2018 — e o terceiro do Brasil na temporada.
O time de Mancini
Desde o episódio no Ba-Vi e aborrecido com a suspensão, que ainda hoje considera injusta, Vagner Mancini adotou postura mais reservada. Distanciou-se dos jornalistas e adotou mais treinos fechados. Nesta segunda-feira, trabalhou sem a imprensa no Barradão.
Mesmo sem Fllipe Soutto, Neílton e Luan, o time manterá o modelo tático original. Mancini, até as suspensões, usava 4-4-2 em linhas, com o veloz Rahyner, ex-Fluminense e Náutico, pela direita e Juninho, lateral com passagem por Figueirense e Palmeiras, no lado esquerdo.
O time tem nomes rodados, como os laterais Lucas, ex-Palmeiras e Fluminense, e Pedro Botelho, ex-Atlético-PR e Atlético-MG. Na frente, Denilson, trazido do São Paulo, retoma seu lugar. Um provável time: Fernando Miguel; Lucas, Kanu, Walisson Maia e Pedro Botelho; Uillian Correia, Iago, Rhayner e Juninho; Jonatas Belusso e Denílson.
O alemão baiano
Alexander Baumjohann pode aparecer no segundo tempo no Beira-Rio. O nome diferente entrega. Alexander, 31 anos, nasceu em Waltrop, na Renânia do Norte-Vestfália, a 25 quilômetros de Dortmund.
Sua trajetória registra passagens por Schalke 04, Borussia Mönchengladbach, Bayern de Munique, Kaiserslautern e Herta Berlin, de onde veio no ano passado para o Coritiba. Meia-atacante, Alexander fez apenas dois jogos no Paraná. Mudou-se para o Vitória e já foi usado por Mancini cinco vezes — com um gol e três assistências. Casado com uma brasileira, fala um português fluente e virou atração no Baiano 2018.