No início desta semana, sentei para conversar com José Aquino Flôres de Camargo, vice-presidente de Assuntos Estratégicos do Inter. Desembargador aposentado e ex-presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Aquino está exultante com o andamento do projeto para construção do CT do clube em Guaíba, um plano colocado em prática desde a gestão Piffero.
Já batizado Cidade do Inter nos bastidores do Beira-Rio, o centro de treinamentos pode começar a sair do papel em 2018. Há um investidor interessado em participar do projeto, cujo custo na primeira fase está estimado em R$ 70 milhões.
Trata-se de um fundo financeiro europeu, que segundo o dirigente "tem face e representantes no Brasil que já estiveram algumas vezes em reuniões no Beira-Rio". O dono desse fundo atravessou o Atlântico recentemente e visitou a área em Guaíba.
Aquino espera uma proposta para as próximas semanas e demonstra otimismo. Os moldes do negócio, no entanto, ainda não foram confirmados. Mas o dirigente garante:
—O CT não tem vinculação alguma com o entorno do Beira-Rio. São projetos diferentes.
A seguir, confira trechos do que Aquino revelou sobre a Cidade do Inter.
Museu indígena e figueiras preservadas
"Esta aqui (mostra sobre a mesa) é a licença de instalação da Fepam. Venho cuidando disso há um ano. O Inter atendeu a todas as exigências legais. Aquela área do CT é virgem. São cerca de 80 hectares. Desses 80 hectares, mais ou menos, a metade é intocável. Por que a obra terá um custo grande? Porque teremos de fazer uma intervenção para aterrar, ajeitar a área. Vamos fazer a construção respeitando rigorosamente o projeto. Para ter uma ideia, há cerca de 50 figueiras em que não se pode fazer qualquer intervenção em um perímetro específico delas. Outra peculiaridade é que naquela área teve no passado uma população indígena. O Ipham impôs uma série de exigências. Teremos de fazer a preservação dos restos que encontrarmos dessa comunidade e deixá-los expostos em um museu na entrada do CT. Contratamos um arqueólogo, que fez um projeto e acompanhará toda a obra".
Hotel e escola
"Teremos uma escola na entrada do CT, que será definida com o pode público municipal e estadual. No meu sonho, gostaria de que fosse uma escola de formação profissional. Ela servirá aos atletas e à gurizada carente que frequenta o bairro. O projeto do CT terá reflexo sensacional em Guaíba, a região do CT avançará no ponto de vista social. A previsão original prevê ainda um hotel, voltado ao turismo. Não o coloquei como prioridade, tanto que está fora da primeira fase. Até porque deve colidir com projetos do clube para o entorno do Beira-Rio".
Uso de recursos públicos
"Na minha visão, não tem possibilidade de se buscar recursos públicos para o CT. Se fosse só para a base, aí sim. Mas nossa ideia é usar também para o profissional, e isso inviabiliza. Outra razão é que, para se enquadrar numa lei de incentivo ao esporte, teríamos de cumprir prazos de encaminhamento de projeto e isso leva um ano para aprovar. Depois, gasta-se mais um ano para fazê-lo avançar. Iríamos começar a obra daqui a três ou quatro anos. Por isso, temos de buscar recursos privados, um funcionamento ou dinheiro nosso, que não há neste momento. Vamos fazer algo um passo à frente da maioria dos clubes. Haverá a integração da base com o profissional. Na minha ótica, a área onde hoje está o CT do Parque Gigante ficaria para as escolinhas. Ali é um baita ambiente para isso. poderíamos oferecer uma estrutura adequada às crianças e seus familiares".
Custo da obra
"Neste ano, tratei de dar uma dimensão para esse projeto. Fizemos uma estimativa, tudo rigorosamente através de licitação. Esse projeto é para 10 anos, mas é necessário dar a arrancada para ontem. E só isso nos colocará em um outro patamar de competitividade. A Hype Studio, quando foi contratada pela gestão anterior para fazer esse projeto, visitou os principais clubes da Europa, como Real Madrid, Barcelona e Borussia Dortmund. Esse projeto envolve mais de R$ 100 milhões para fazer todo ele. Só que não há necessidade de construir tudo agora, Por isso, o dividimos em fases. A primeira levaria dois anos para ficar pronta e custaria algo em torno de R$ 70 milhões. Cmo contrataremos, por licitação, uma empresa de engenharia para gerenciar a obra, tenho certeza de que esse custo ainda será menor".
Primeira fase da obra
"O prazo é de dois anos e, com essa obra, já estaríamos em um outro patamar. É um projeto de primeiro mundo, a Seleção Brasileira vai treinar lá, pode me cobrar. Fazem parte dessa fase oito campos, complexo com 10 vestiários, cada um para 30 atletas, sala de conferências, rouparia, academia, fisioterapia, hidroterapia, área de lazer, escritórios administrativos, alojamento para 200 atletas e ala comum do CT, onde haverá salas técnicas para reuniões entre as diversas comissões técnicas do clube. Os atletas contarão com o Footbonaut, uma máquina de treinamento que ajuda no aperfeiçoamento de fundamentos (veja o vídeo abaixo), um modelo que existe no CT do Borussia Dortmund. Ainda teremos centro médico, cozinha industrial e refeitório. Sem contar a parte estrutural, em que constam subestação de energia, reservatórios, docas para carga e descarga de equipamentos e produtos, edifícios de serviços. A TV Inter terá uma área específica e ainda teremos uma cafeteria para visitantes e para os pais de atletas."
Segunda fase da obra
"Nessa etapa está previsto o miniestádio, para 3mil, 4 ml pessoas, o campo coberto, a ala destinada exclusivamente ao time profissional, com vestiário para 36 atletas, mais academia e fisioterapia. No primeiro momento, o grupo principal pode, sim, dividir espaço com a base. É claro, com separação evidentemente. Outros seis campos serão construídos, fechando um total de 14 no CT."
O dinheiro para a obra
"Aí vem a questão do financiamento. Existe investidor interessado, trata-se de um fundo de investimento europeu. Mas não há uma proposta ainda. Possivelmente, ela virá até o final deste ano. Quando chegar, será submetida aos Conselhos de Gestão e Deliberativo. A construção do CT não tem vinculação com o entorno do Beira-Rio. Os interessados tem face, estão conversando há bastante tempo conosco e têm representantes aqui n Brasil. Estiveram aqui avaliando o Inter, assim como nós temos de avaliar bem quem eles são. O dono do fundo já veio pessoalmente aqui, foi à Guaíba, conheceu a área, caminhou comigo lá. Gosta desse ramo da construção civil. A expressão que usou ao ver a área foi: 'Me admiro que um clube como Inter ainda não tenha um CT'. Como eles pretendem lucrar com isso? Temos de esperar a proposta, mas temos uma ideia, que não podemos abrir ainda. Mas posso dizer que o entorno do Beira-Rio não está envolvido. Pode até vir ser tratado no futuro, mas até agora não se falou disso."