Antevendo a vitória na Revolução Federalista, os republicanos celebraram em cidades gaúchas, em 1894, a morte do general Gumercindo Saraiva. O maragato não resistiu à hemorragia provocada por tiro no tórax no combate do Carovi, atual município de Capão do Cipó. No livro Triste Fim de Gumercindo Saraiva (Acervus Editora), o professor da Unipampa Cláudio Júnior Damin reconta as últimas horas do rival de Júlio de Castilhos, a morte e a mutilação do cadáver. A cabeça do general foi carregada como troféu de guerra.
Ao lado de Gaspar Silveira Martins, Joca Tavares e do irmão Aparício Saraiva, Gumercindo estava entre os líderes dos federalistas, que confrontaram o presidente do Brasil, Floriano Peixoto, e seu aliado Júlio de Castilhos, presidente do Rio Grande do Sul. Questionavam o poder centralizado no regime republicano, defendendo sistema parlamentarista. Os republicanos acusavam Silveira Martins, ex-aliado de Dom Pedro II, e sua turma de tentar restaurar a monarquia.
Gumercindo nasceu em Arroio Grande, município gaúcho, mas foi criado na fronteira com o Uruguai. Pouco falava em português, sendo apontado pelos adversários como estrangeiro, castelhano.
Depois da morte, em 10 de agosto de 1894, surgiram diferentes versões contadas por republicanos e federalistas. O professor Damin destaca que Gumercindo não estava em posição de ataque ou defesa, mas como observador do ataque contra os pica-paus. Naquela tarde, no Carovi, o tiro partiu do mato, sem possibilidade de revide. O atirador, que ficou no anonimato, provavelmente era um ex-federalista, capturado e que virou a casaca para evitar a degola. Os louros ficaram com o tenente-coronel da Brigada Militar José Bento Porto, comandante da tropa.
O médico Ângelo Dourado atestou a morte do general por volta das 20h30, quando os federalistas estavam em retirada do ponto de combate. Aos 41 anos, Gumercindo era carregado em uma padiola. O médico esperou algumas horas até anunciar aos outros oficiais o falecimento.
Em rápida despedida, sem honras militares, o corpo foi enterrado entre duas sepulturas do Cemitério dos Capuchinhos de Santo Antônio, atual município de Itacurubi. Os federalistas falharam na tentativa de esconder o corpo do general. Os pica-paus localizaram a cova, exumando o cadáver dois dias depois, tendo a confirmação do óbito do líder maragato. Em função das dificuldades de comunicação, Júlio de Castilhos só recebeu o comunicado seis dias depois da morte.
A guerra civil de 1893 a 1895 ficou marcada por massacres, degolas, mutilações de corpos, castração e saques. O corpo de Gumercindo ficou exposto na beira da estrada, mutilado. Os rivais arrancaram orelhas e barba, e o castraram. O desfecho foi o corte da cabeça.
O pesquisador cita que fontes e evidências indicam que o major Ramiro de Oliveira transportou a cabeça até Porto Alegre. O presidente Júlio de Castilhos teria repudiado o ato, ordenando que deixasse o palácio do governo.
Onde foi parar a cabeça de Gumercindo? Em uma versão, teria sido enterrada nos alicerces da casa do proprietário do jornal A Federação, Eduardo Marques. Outra versão cita que a jogaram em um rio.
No final de 1899, o irmão Aparício Saraiva organizou expedição para retirar restos de Gumercindo no cemitério dos capuchinhos e levar ao Uruguai, sem a cabeça. Em 1918, filhos do general transferiram os restos para sepultamento ao lado da esposa, em Santa Vitória do Palmar.