Os motoristas mais atentos já viram na Estrada do Mar as placas da Várzea do Padre. A localidade de Osório é cortada pela movimentada rodovia do Litoral Norte gaúcho. O padre homenageado é Manuel Paz Fernandes. Ele nasceu próximo à cidade de La Coruña, na Espanha. Antes de se envolver em conflitos políticos no Rio Grande do Sul, atuou na Argentina e no Paraguai. O ex-intendente de Osório e historiador Fernandes Bastos, já falecido, o definia como "espanhol atrevido e federalista exaltado", que "ia para o altar de revólver à cintura".
O padre foi assassinado em 19 de junho de 1892 em Conceição do Arroio, nome antigo de Osório. No começo daquele mês, Júlio de Castilhos tramava golpe para derrubar o "governicho" dos maragatos em Porto Alegre. Os seus apoiadores, conhecidos como pica-paus, se retiraram da cidade do litoral aguardando o movimento na capital. Deposto o grupo federalista, o coronel Antônio Marques e um grupo de republicanos marcharam de volta para Conceição do Arroio.
Os maragatos fugiram em direção à fazenda da Porteira, do major Azevedo. Os republicanos prenderam no caminho Zeferino Antônio de Oliveira e os alemães João Enet e Boroski. No entrevero, o padre Paz Fernandes tombou morto com um tiro nas costas. Ele e o major Azevedo eram os líderes maragatos em Conceição do Arroio.
O historiador Rodrigo Trespach, que narra o episódio no livro Quatro Dias em Abril, conta que, pelos relatos orais, o corpo do religioso foi levado até o centro da cidade e sepultado "em pé", "para não ocupar muito lugar e deixar mais espaço para outros cristãos". Não existe túmulo com seu nome no cemitério, nem mesmo registro de sua morte nos livros da Igreja de Nossa Senhora da Conceição. É desconhecido o nome do pica-pau que o matou.
O lugar onde o padre foi morto deu origem à Várzea do Padre, no km 6 da Estrada do Mar. O assassinato foi um dos tantos de um sangrento período da história do Rio Grande do Sul após a proclamação da República. Em 1893, começou a Revolução Federalista. Os maragatos, federalistas, tinham como líder Gaspar Silveira Martins, que defendia uma república parlamentarista, com descentralização do poder. O lado republicano, pica-pau (mais tarde, chimango), liderado por Júlio de Castilhos, queria o poder concentrado no governo central.
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