Os prédios históricos do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, preservam um misto de beleza, tristeza e mistério. Construídos no século 19, ficam a poucos metros da movimentada Avenida Bento Gonçalves, no bairro Partenon. O São Pedro completou 140 anos. O antigo hospício virou uma instituição de atendimento ambulatorial, internação, ensino e pesquisa na área de psiquiatria.
O hospital é do tempo do Império. O presidente da província, Carlos Thompson Flores, comprou as terras de Maria Clara Rabello junto à Estrada do Mato Grosso, atual Avenida Bento Gonçalves. Em prestigiada celebração, em 1879, deu largada à obra, projetada pelo engenheiro Alvaro Nunes Pereira. O provedor da Santa Casa de Misericórdia, José Antônio Coelho Júnior, liderou a comissão responsável pela construção.
Durante a cerimônia, em um vão junto à pedra fundamental, foi colocada uma caixa de zinco, com outra de madeira dentro. De acordo com ata sobre o lançamento, Thompson Flores depositou moedas nacionais de cobre, níquel, prata e ouro, além de jornais do dia. Ele também deixou uma mensagem saudando a obra do hospício para tratar "os infelizes acometidos de alienação mental".
O primeiro prédio foi inaugurado por outro presidente da província, José Júlio de Albuquerque Barros, em 29 de junho de 1884, no dia de São Pedro. Na véspera, chegaram os primeiros 41 "alienados", homens e mulheres, transferidos da Santa Casa e da cadeia pública.
Poucos dias antes da abertura, o cronista Felicíssimo de Azevedo escreveu que iria "cessar o repugnante espetáculo do encarceramento, como criminosos, dos infelizes privados de razão". Além dos pacientes com doenças mentais, o hospício foi destino de pessoas com comportamentos fora do padrão social.
Em nota publicada na imprensa, em julho de 1884, o Hospício São Pedro, primeiro nome oficial, comunicou que os pacientes só poderiam ser visitados nas quintas-feiras e nos domingos, mediante prévia autorização do diretor médico.
Em 30 de janeiro de 1885, a princesa Isabel conheceu o local. Em livro de visitas, a filha de Dom Pedro II registrou a presença. A mesa usada para o ato é preservada no Memorial da Loucura, que fica em um dos prédios. Móveis, equipamentos médicos, fotos, documentos, objetos de antigos pacientes, livros e outros materiais contam a história de 140 anos do hospital.
Outros dois blocos foram concluídos dois anos depois da inauguração do primeiro. Com necessidade de espaço, surgiram mais três pavilhões até 1903. Os seis prédios são tombados pelo Estado e pela prefeitura de Porto Alegre. No auge da ocupação, entre o final dos anos 1960 e início da década de 1970, o hospital chegou a ter cinco mil internados.
Desde a década de 1980, nenhum dos seis blocos históricos está em uso para tratamento médico. A maior transformação ocorreu a partir da Lei da Reforma Psiquiátrica, promulgada em 2001, quando começou o processo de desinstitucionalização dos moradores.