O Memorial da Loucura guarda a história do Hospital Psiquiátrico São Pedro e da psiquiatria no Rio Grande do Sul. Móveis, equipamentos médicos, fotos, documentos, objetos de antigos pacientes, livros e outros materiais contam em detalhes a trajetória de mais de um século. Em 29 de junho de 1884, o governo da província inaugurou o primeiro dos seis blocos do Hospício São Pedro, no arraial do Partenon, em Porto Alegre.
O jornal A Federação noticiou que, na véspera, chegaram 41 "alienados", transferidos da Santa Casa de Misericórdia e da cadeia pública. O projeto do prédio foi do engenheiro Alvaro Nunes Pereira, seguindo "todas as regras técnicas, de higiene e bom gosto". Outros dois blocos foram concluídos dois anos depois. A Santa Casa de Misericórdia fez a administração nos primeiros anos, até a Proclamação da República. Com necessidade de espaço, surgiram mais três pavilhões até 1903.
No auge da ocupação, entre o final dos anos 1960 e início da década de 1970, o hospital chegou a ter cinco mil internados. Desde a década de 1980, nenhum dos seis blocos históricos está em uso para tratamento médico. Cenário de vários filmes, o conjunto de prédios é tombado pelo Estado e pela prefeitura de Porto Alegre. O restauro começou, mas está suspenso.
Aberto em 2001, o Memorial da Loucura do Hospital Psiquiátrico São Pedro, vinculado à Secretaria Estadual da Saúde, ocupa uma parte do prédio histórico. O espaço recebe muitas visitas de alunos de faculdades. Guiado pela coordenadora do Memorial da Loucura, Lia Magalhães, percorri o corredor e os quartos que preservam o passado do hospício construído para tratar e exilar doentes mentais, criminosos, alcoólatras e aqueles que fugiam do padrão.
— Tudo o que a sociedade não conseguia controlar era tratado como loucura — resume Lia.
Em junho de 2023, o Hospital Psiquiátrico São Pedro tem apenas um paciente morador, depois de um esvaziamento por consequência da lei antimanicomial.
Abaixo, compartilho curiosidades sobre o Memorial da Loucura, que recebe visitas de grupos ou individuais mediante agendamento.
Camisa de força
O tecido da camisa de força era de lona, com mangas muito longas e fechadas. Os braços ficavam cruzados junto ao tórax e as pontas das mangas podiam ser amarradas nas costas. O paciente ficava imobilizado. A camisa de força foi substituída por psicofármacos.
Eletrochoque
Em uma das salas do Memorial da Loucura, é resgatada a história dos tratamentos: insulinoterapia, termoterapia, penicilinoterapia, eletroconvulsoterapia (eletrochoque) e outras. Os visitantes podem ver, por exemplo, máquinas de eletrochoque.
Princesa Isabel
Em 30 de janeiro de 1885, a princesa Isabel, filha de Dom Pedro II, visitou o Hospício São Pedro, em Porto Alegre. Em livro de visitas, registrou a presença. O Memorial da Loucura guarda a mesa usada pela princesa para assinar o livro.
Objetos de pacientes
Quando ocorria a internação, o hospital guardava os pertences dos pacientes. Na hora da alta, tudo deveria ser devolvido. No acervo, estão objetos pessoais que não foram retirados. Talvez, pacientes que nunca saíram.
Equipamentos médicos
O Memorial da Loucura tem em exposição muitos materiais médicos. O Hospital Psiquiátrico São Pedro sempre foi uma referência, com os equipamentos mais modernos de cada época.
Como visitar o Memorial da Loucura do Hospital Psiquiátrico São Pedro
- Endereço: Avenida Bento Gonçalves, 2460, bairro Partenon, em Porto Alegre
- Visitas precisam ser agendadas: segunda a sexta-feira, das 8h30 às 15h
- Agendamento pelo telefone (51)32401312 ou e-mail (lia-magalhaes@saude.rs.gov.br ou hpsp-memorial@saude.rs.gov.br)
- Entrada gratuita