O Solar Lopo Gonçalves foi construído após a Guerra dos Farrapos, entre 1845 e 1853. Em uma área considerada afastada da cidade na época, o comerciante português Lopo Gonçalves Bastos ergueu um casarão de arquitetura colonial nos fundos da chácara da família, junto à Rua da Margem, atual Rua João Alfredo. Ocupado pelo Museu de Porto Alegre Joaquim José Felizardo, é um dos prédios mais antigos da capital gaúcha.
Originalmente, o solar possuía no segundo pavimento quatro cômodos: uma sala de visitas, dois dormitórios e uma sala "de viver" ou de jantar. Uma varanda seria acrescida mais tarde. Os serviços domésticos provavelmente eram realizados no primeiro pavimento, um porão alto, ocupado também pelos escravos.
A chácara ficava na Várzea, uma grande área alagadiça às margens do Guaíba e recortada pelo Arroio Dilúvio. A propriedade começava na Rua da Olaria, atual Rua Lima e Silva. Com a morte de Lopo Gonçalves, em 1872, e da esposa Francisca Benfica Rodrigues Teixeira, em 1876, a filha Maria Luisa Gonçalves Bastos e o marido Joaquim Gonçalves Bastos Monteiro herdaram o imóvel, que passou por modificações. O pátio interno foi fechado, criaram novo cômodo e construíram o torreão, de onde era possível observar as embarcações que chegavam e saiam do porto.
Como outras propriedades rurais, ao longo do século 20, a chácara ficou menor, mas a casa resistiu. Em 1946, Maria Amália Bastos de Vasconcellos Hasse, herdeira dos Gonçalves Bastos, vendeu o imóvel para o empresário Albano José Volkmer. O casarão foi dividido em três unidades habitacionais. Nesta época, chamavam de Casa da Magnólia, por causa da árvore centenária ainda presente no jardim. Os Volkmer moraram no local, assim como funcionários de sua fábrica de velas.
Em 1966, o Serviço de Assistência e Seguro Social dos Economiários (SASSE) comprou o terreno para construir conjunto residencial para seus associados. Solicitou a demolição da casa e abertura de rua dividindo a área, mas teve o pedido negado.
O prédio acabou ocupado por famílias carentes, ficando conhecido por "cortiço". Depois de movimento para preservação do patrimônio, em 1979, ocorreu a permuta do solar entre prefeitura e Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS), ex-SASSE. O prédio foi tombado em 21 de dezembro de 1979. Em seguida, começaram as obras de restauração do solar, que abriga o museu desde 1982. O casarão branco fica na Rua João Alfredo, 582, no bairro Cidade Baixa. Nos fundos, existe um grande jardim.
O segundo pavimento mantém exposições abertas ao público, inclusive, sobre a história do solar. Outras partes do prédio são ocupadas pela administração e pelo acervo, composto por milhares de fotos e itens arqueológicos. As paredes externas são largas, construídas com tijolos, e as internas, em estuque (barro, madeira e folhas de palmeira), como o visitante pode observar em um ponto aberto. Em 1993, o historiador, escritor e professor Joaquim José Barcelos Felizardo foi homenageado com o nome do museu.
A diretora do museu, Beth Corbetta, me guiou por um passeio no solar. Por íngreme escada, subi até o torreão, usado para arquivo de negativos e fotos da prefeitura. Nas janelas, já não é possível enxergar o Guaíba, que está mais longe depois dos aterramentos.
Projetos para restauro do solar estão em andamento. Depois da conclusão, o museu buscará recursos para as obras.
Museu de Porto Alegre Joaquim José Felizardo
- Horário de visitação: segunda-feira (13h30 às 17h30) e terça a sexta-feira (9h às 12h e 13h30 às 17h30)
- Entrada gratuita
- Localização: Rua João Alfredo, 582, Cidade Baixa
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