Os cassinos estão proibidos no Brasil desde 30 de abril de 1946. No decreto-lei número 9.215, o presidente Eurico Gaspar Dutra colocou na ilegalidade a exploração de todos os jogos de azar. Nos bastidores, os críticos espalhavam que era um pedido da primeira-dama, Carmela Dutra, a Dona Santinha.
A proibição recebeu apoio de grande parte dos brasileiros. Na Igreja Católica, movimentos defendiam o fim dos cassinos, considerados ambientes de vício e promiscuidade. Pelo texto do decreto-lei, uma das justificativas foi a "tradição moral, jurídica e religiosa do povo brasileiro e contrária à prática e à exploração e jogos de azar". O governo considerava que ocorriam "abusos nocivos à moral e aos bons costumes". Os jogos de azar estavam liberados no Rio de Janeiro, então capital brasileira, e nas estâncias hidroterápicas, balneárias ou climáticas.
A maioria dos senadores e deputados ficou ao lado do presidente da República, que completava o terceiro mês no poder. A Assembleia Nacional Constituinte ainda redigia a Constituição de 1946, depois do regime autoritário de Getúlio Vargas. O deputado federal gaúcho Antero Leivas (PSD), partidário de Dutra, disse que preferia ter o Brasil desconhecido se dependesse da "proliferação do jogo e do vício para ser conhecido e visitado". Parlamentares da UDN, maior partido oposicionista, também aplaudiram o ato governamental.
Crítico contumaz dos jogos de azar, o jornal carioca Diário de Notícias foi só elogios à proibição, publicando na capa que "extingue-se uma praga social". Na noite de 30 de abril de 1946, jogadores ainda correram aos cassinos do Rio de Janeiro, mas foram surpreendidos pelo fechamento. Não deu tempo para a despedida.
Curiosamente, na campanha eleitoral, o candidato derrotado, brigadeiro Eduardo Gomes (UDN), defendeu a bandeira do fim da jogatina. Dutra optou pelo silêncio, até atraiu apoio dos donos dos cassinos. O jornal Correio da Manhã publicou que o decreto-lei foi "a vitória do vencido".
Como a nova constituição só ficou pronta em setembro de 1946, Dutra ainda estava com o poder de legislar, uma herança do Estado Novo. A proibição dos jogos de azar nem passou por votação do Congresso Nacional.
Liberados em locais turísticos desde 1920, os cassinos prosperaram depois da chegada de Getúlio Vargas ao poder em 1930. Os estabelecimentos contratavam grandes artistas para atrair mais público. No auge, o Brasil chegou a ter 70 cassinos. Na grande exposição do centenário da Revolução Farroupilha, em 1935, foi aberto um cassino no Parque da Redenção, em Porto Alegre.
No Congresso Nacional, avança um projeto que libera novamente cassinos e jogos de azar.