Construído na várzea do Rio Gravataí, o aeroporto de Porto Alegre foi inundado na enchente de 1941. O aeródromo federal ficava na mesma área do Aeroporto Internacional Salgado Filho. O bairro São João foi um dos mais afetados pela grande enchente.
Os bondes São João e Navegantes deixaram de operar em 1º de maio devido à água do Guaíba em grande parte da linha. Na edição de 3 de maio, o jornal A Noite noticiou que o aeródromo ficou alagado pelo transbordamento do Rio Gravataí. Os aviões passaram a operar "no campo da Air France, que fica a uns 20 quilômetros de Porto Alegre". O aeroporto da capital gaúcha tinha um prédio pequeno, de dois andares. A água chegou a dois metros de altura.
No final de maio de 1941, o Departamento de Aeronáutica Civil projetou que seriam necessários seis meses para restabelecer o serviço no aeroporto de Porto Alegre. As notícias dos jornais nos meses seguintes mostram que a retomada foi mais rápida.
O jornal A Manhã, em 12 de agosto, publicou que a Varig pediu levantamento da interdição do aeroporto federal, justificando que seus aviões tinham pouco peso e não estariam sujeitos a acidentes. A pista já estava liberada nos dias seguintes. Em 18 de agosto, por exemplo, partiu de Porto Alegre um avião da Panair, que caiu em São Paulo. Portanto, o aeroporto da capital gaúcha ficou fechado por três meses e meio devido à inundação e aos estragos causados pela enchente.
Mesmo com a liberação de voos, a pista ainda não estava normal. Em 22 de agosto, a LATI (Linee Aeree Transcontinentali Italiane) pediu ao Departamento de Aeronáutica Civil para suspender temporariamente os pousos em Porto Alegre nas viagens entre Buenos Aires e Rio de Janeiro. A companhia aérea alegou que o aeroporto não oferecia condições de segurança.
O ministro da Aviação, Joaquim Pedro Salgado Filho, viajou à capital gaúcha no início de outubro, onde foi recepcionado no aeródromo federal. O político é homenageado com o nome do aeroporto de Porto Alegre desde 1951, um ano após morrer em acidente aéreo.
Qual era o movimento do aeroporto de Porto Alegre na época? Em fevereiro de 1941, antes da enchente, 1.362 passageiros passaram pelo aeroporto do bairro São João. Em um mês, foram 174 aviões. Como comparação, o Aeroporto Internacional Salgado Filho teve 189 pousos e decolagens em 2 de maio de 2024, último dia de operação normal antes da maior enchente da história do Rio Grande do Sul.
Origem da aviação no São João
Na Várzea do Gravataí, em 1923, a Brigada Militar instalou o Serviço de Aviação, após adquirir duas aeronaves na Argentina. Desde o final do século 19, a corporação ocupou aquela área de campo com um regimento de cavalaria e o posto de veterinária.
Com a extinção do Serviço de Aviação em 1924, permaneceu o Parque de Aviação, um espaço para demonstrações de voo esportivo, mantido por Oreste Dionício Borroni, mediante contrato com o governo do Estado.
A Varig, fundada em 1927, inicialmente usou hidroaviões. Somente em 1932 operou aeronaves com trem de pouso. A aviação comercial exigiu melhorias no aeródromo do bairro São João.
No livro Porto Alegre: Guia Histórico, Sérgio da Costa Franco cita que o aeródromo passou à administração federal entre 1937 e 1938. Com o novo controle, foi construído o primeiro terminal de passageiros, com acesso pela Rua 18 de Novembro.