O Muro da Mauá faz parte do sistema de proteção de inundações em Porto Alegre. Sempre foi o ponto mais visível e polêmico dos 68 quilômetros da estrutura, composta por diques. Com 2.647 metros de extensão, fica no Centro Histórico, separando a Avenida Mauá dos armazéns dos cais do porto. Desde a construção, o muro foi alvo de críticas, tentativas de demolição e substituição por outro sistema de proteção.
A Avenida Mauá surgiu na década de 1920 com o aterramento do Centro Histórico de Porto Alegre para a nova zona portuária. Ela cortava a região do porto, com os armazéns de um lado e novos prédios erguidos do outro. Na enchente de 1941, o Guaíba chegou a 4m76cm no Cais Mauá, onde a cota de inundação é de 3m.
A Cortina de Proteção, nome técnico da estrutura, foi a alternativa escolhida para impedir nova inundação do centro da cidade, sem necessidade de um dique para trânsito de veículos, como nas avenidas Castello Branco e Beira-Rio. A obra começou em 22 de setembro de 1971, no trecho entre a Avenida Sepúlveda e a Rua Bento Martins.
A construção fez parte dos planos do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) após a enchente de 1941. A estrutura tem três metros enterrados e outros três metros de altura em relação à avenida. A obra foi realizada até 1974, na gestão do prefeito Telmo Thompson Flores.
Os críticos do muro cinzento que separou o Centro Histórico do Guaíba o apelidaram de "Muro da Vergonha" ou "Muro de Berlim", como revela reportagem de Zero Hora em abril de 1975. Poucos meses após a conclusão, parte da população queria a demolição, por considerar "opressor". Outros entendiam que, depois de tantos gastos, seria melhor enfeitar a estrutura. Em debate sobre o tema, o prefeito Guilherme Socias Villela sugeriu plantar flores no entorno. Os artistas defendiam a pintura. As lembranças da trágica enchente de 1941 já se perdiam na cidade, depois de três décadas.
O Jornal do Brasil noticiou que a construção foi um convênio entre DNOS, governo do Estado e prefeitura de Porto Alegre. De acordo com reportagem publicada dois anos após a conclusão, a Cortina de Proteção custou Cr$ 7 milhões. No cálculo da correção pelo IGP-DI (FGV), indicador disponível neste período de 50 anos, equivale a quase R$ 40 milhões em 2024.
Nas últimas décadas, muito se discutiu sobre a derrubada da estrutura de concreto e outras alternativas de proteção contra cheias. Na grande enchente de maio de 2024, o Muro da Mauá resistiu, mas o Centro Histórico foi inundado por outras falhas no sistema, como a falta de vedação das comportas e a inoperância das casas de bombas.
Quais serão os argumentos a favor e contra o Muro da Mauá depois da enchente de 2024? O tempo dirá.