Um bebê foi salvo dentro de um berço arrastado pela água durante a grande enchente de 1941 em Porto Alegre. Em uma pequena nota, perdida entre o noticiário da calamidade, o jornal carioca Diário de Notícias descreveu o resgate. Na edição de 13 de maio, leitores foram surpreendidos com a manchete "As águas carregavam o berço".
O jornal contou que o bebê de dois meses foi encontrado por pessoas que trabalhavam em um posto de socorro. O mais incrível foi a forma como chegou ao local. O bebê estava dentro de um berço, levado pelas águas. Com vida, foi recolhido e encaminhado a um abrigo.
Qual o nome do bebê? Os socorristas conseguiram localizar a família? Qual o local do resgate? São perguntas sem respostas até agora nos jornais consultados.
A grande enchente de 1941, superada em 2024, deixou a população traumatizada. Por gerações, as histórias foram compartilhadas pelas testemunhas daquele período de calamidade.
Na metade de maio de 1941, 17.253 pessoas estavam recolhidas em 84 abrigos, montados em faculdades, escolas e associações. O número total de flagelados oscilou nas notícias entre 60 e 80 mil.
Quantas pessoas morreram na cidade? Sempre foi um número incerto. Em edição de 16 de maio, o jornal carioca Diário de Notícias publicou que já eram 16 mortes por afogamento. Poucos dias depois, noticiou mais um óbito. Uma das mortes ocorreu no Pão dos Pobres.
Como foi a enchente de 1941
A chuva no Estado começou em 10 de abril, uma Quinta-Feira Santa. Por 35 dias, o Estado foi castigado pelos temporais. Em Porto Alegre, choveu em 22 dias neste período, acumulando 619,4 milímetros.
Depois do caos no interior, os rios Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí encheram o Guaíba. Com 272 mil habitantes, Porto Alegre ficou com suas principais áreas comerciais e industriais embaixo d´água no início de maio, quando o vento Sul represou o Guaíba.
Baseados na experiência de outra grande enchente, de 1928, muitos porto-alegrenses demoraram para se convencer da gravidade. Em 8 de maio de 1941, o nível do Guaíba atingiu a marca de 4,76 metros no Cais Mauá, onde a cota de inundação é de três metros.
As consequências da enchente de 1941 foram sentidas por muito tempo. Em 1967, outra cheia do Guaíba deixaria partes da cidade embaixo d´água. Depois dos traumáticos episódios, Porto Alegre construiu o muro da Avenida Mauá e um sistema de diques.
Na enchente de maio de 2024, a marca de 4m76cm foi superada no início da noite de 3 de maio. No madrugada de 5 de maio, foi registrada a maior marca da história do Guaíba no Cais Mauá: 5m35cm.