A agência de viagens Exprinter levou um grupo de jornalistas de Porto Alegre ao Litoral Norte em dezembro de 1933. Além do bom relacionamento com a imprensa, a empresa queria divulgar as praias e os hotéis de Cidreira, Tramandaí, Capão da Canoa e Torres. Em meio às edições do jornal A Federação, encontrei o curioso relato sobre os nossos balneários naquela época. No início da década de 1930, curtir alguns dias à beira mar era um programa possível para poucas famílias gaúchas.
A Exprinter fazia o roteiro em parceria com os hotéis. Os veranistas eram transportados nos automóveis da Empresas Reunidas de Transportes Balneários. A agência de viagens ficava na Rua dos Andradas, no Centro Histórico de Porto Alegre. Além do Litoral Norte, oferecia passeios à praia do Cassino, cidades da serra e estações termais de Iraí.
Além do jornal A Federação, a excursão de 19 de dezembro de 1933 teve convidados do Jornal da Manhã, Jornal da Noite, Correio do Povo, Diário de Notícias, Revista do Globo e de jornais de língua alemã. O representante do jornal A Federação foi Zopyro Ourique, que fez o relato pitoresco sobre nossas praias.
A viagem e as praias
O grupo madrugou, partindo de Porto Alegre em "cômodos e possantes autos" às 4h de 19 de dezembro de 1933. Com apenas uma parada na viagem, chegaram a Cidreira às 10h30. Pelo relato, Cidreira e Quintão "são as mais próximas de Porto Alegre, e por este motivo, gozam de grandes preferências". Cidreira "possui maior edificação de chalets particulares" e "enche-se aos sábados e domingos de automóveis com famílias porto-alegrenses". Na área de hospedagem, estavam abertos "Novo Hotel, Hotel Primavera, Grande Hotel Atlântico, Hotel Menegatti e outros com iluminação elétrica e água doce muito boa".
Depois do almoço, a excursão partiu para Tramandaí. A hospedagem foi no Hotel Corrêa, de Germano Corrêa. Pela descrição, o balneário se diferenciava dos demais "por se achar afastado do mar, e por esse motivo gozar da preferência de muitos". Como "o ruído produzido pelo mar causa em muitas pessoas nervosas forte agitação e perda de sono à noite", Tramandaí era a praia indicada. Os hotéis ficavam na atual Avenida Emancipação, distantes aproximadamente um quilômetro do mar. Outros estabelecimentos citados foram Hotel Sperb, Hotel Strassburger e Hotel Kunz. A praia já tinha iluminação elétrica e telefones.
Na manhã de 20 de dezembro, o grupo partiu para Capão da Canoa. A travessia dos automóveis na Barra de Tramandaí só foi possível com ajuda de pescadores. Pelo relato, Capão da Canoa "é a penúltima praia balnear ao norte do Estado e impõe-se pela sua beleza", ficando "junto ao mar" e com a "particularidade de possuir um gramado que se estende até 50 metros de distância das águas". Os hotéis citados foram Hotel Atlântico, Hotel Rio-Grandense e Hotel Canôa.
Depois do almoço, a viagem seguiu a Torres, a praia "que oferece aspectos mais bizarros". O redator descreve o balneário situado "sobre uma elevação de terreno que vai morrer no mar, terminando em rochedos escarpados, onde as ondas em fúria os lavam sem cessar". Era possível chegar à praia de banho "em uma escada aberta no próprio rochedo". A turma jantou no hotel Balneário Picoral, que oferecia "acomodações para 500 pessoas, um grande salão de refeições, outro de festas, iluminação elétrica, câmara frigorífica, serviço sanitário, ótima cozinha e bem sortida adega".
Depois do jantar, às 21h, o grupo retornou a Porto Alegre. O relato publicado no jornal não deixa clara a rota pelas estradas na ida e na volta. Com certeza, entre Cidreira e Tramandaí, toda a viagem foi pela areia da praia. Em janeiro de 1934, a Revista do Globo publicou uma página inteira com as fotos do passeio.