Como já escrevi outras vezes, o olfato tem o poder de remexer em nossas memórias. Nenhum odor foi tão marcante na minha época de escola quanto as folhas das cópias do mimeógrafo. Quando aquele forte cheiro de álcool tomava conta da sala de aula, todos já sabiam que era dia de prova ou trabalho.
Em um tempo de muito texto copiado do quadro e poucos livros didáticos para preenchimento pelo estudante, as cópias do mimeógrafo agilizavam o trabalho. Em uma prova de muitas perguntas, o aluno poderia ir direto às respostas. O equipamento foi precursor do xerox, da impressora e dos conteúdos digitais nos colégios.
A palavra mimeógrafo vem do grego e significa imitar a escrita. É exatamente o que permite a invenção patenteada pelo norte-americano Thomas Edison no final do século 19. Com uso do estêncil, uma matriz com carbono escrita à mão ou datilografada, a professora poderia reproduzir muitas folhas para a turma.
O sistema usa um feltro umedecido em álcool para fazer a cópia no papel em branco. Uma manivela precisa ser girada a cada página copiada. O trabalho é manual, folha por folha passando pelo rolo onde fica fixada a matriz.
O segredo para a qualidade está na quantidade de álcool. Em excesso, borra. Se colocar pouco, a imagem fica muito clara, impossível de ler. A folha sai umedecida. Pegando por uma das pontas, o papel pode ser balançado para acelerar a secagem. A cópia fica em um tom entre o azul e o roxo.
Em um ambiente fechado, o cheiro tão forte de álcool poderia até fazer um aluno passar mal. Ou seria desculpa para fugir da prova? Os mimeógrafos foram substituídos gradativamente com a chegada do xerox, nome popular das fotocópias.
Talvez o velho equipamento permaneça guardado no armário da secretaria de alguma escola por aí. Em buscas na internet, encontrei mimeógrafos usados nesses sites de desapego. Nada impede de ser usado, mas hoje está mais para peça de museu.