O muro do Pão dos Pobres guarda a história de uma das famílias mais ricas de Porto Alegre no século 19. Com o pórtico e as grades de ferro, na Avenida Praia de Belas, a estrutura traz lembranças da época do palacete do barão e da baronesa de Gravataí. Antes do aterramento do Guaíba e da canalização do Arroio Dilúvio, o casarão ficava no terreno entre o lago e o riacho. O complexo de prédios da Fundação Pão dos Pobres ocupa a área da antiga chácara.
João Baptista da Silva Pereira e Maria Emília da Silva Pereira foram os primeiros proprietários da área entre as décadas de 1820 e 1830. O historiador Pedro Meirelles, que pesquisa o passado do Pão dos Pobres, afirma que a primeira menção documentada sobre o palacete é de 1845. Encerrada a Revolução Farroupilha, o imperador Dom Pedro II veio a Porto Alegre, acompanhado de grande comitiva. Segundo o jornal O Imparcial, "na magnífica e elegantemente ornada casa do Sr. Comendador João Baptista da Silva Pereira" ficaram hospedados o chefe de esquadra John Pascoe Greenfell e seus oficiais.
O comendador fez fortuna no comércio, inclusive de escravos. Morreu em 1853, um ano depois de receber o título de barão. Com o falecimento do marido, a baronesa ficou com a chácara. Em 1879, teria loteado parte das terras herdadas, permitindo à Câmara Municipal a abertura de ruas. O palacete foi alugado, abrigando a Escola de Infantaria e Cavalaria e a Enfermaria Militar. Ela morreu em 16 de março de 1888.
Os herdeiros continuaram alugando o imóvel até 1895, quando foi comprado pelos barões de Nonoai, que provavelmente nunca residiram no casarão. Um incêndio o destruiu totalmente em 1899. Poucos meses depois, o cônego José Marcellino de Souza Bitencourt assinou a certidão de compra do terreno para implantar o Abrigo das Famílias Pobres e Honestas, nome antigo do Pão dos Pobres. Ele é o fundador da instituição em 1895. Começou oferecendo esmolas, pão bento e roupas para necessitados na catedral.
Quando foi para a Cidade Baixa, a instituição ocupou prédios não atingidos pelo incêndio na chácara da baronesa. Em 1904, foi construído imóvel de um pavimento para moradia de famílias. Em uma parte deste prédio, fica hoje a capela. Em 1930, depois de cinco anos em obras, ficou pronto o maior prédio, que está em reforma.
É desconhecido o ano de construção do muro, feito de tijolos maciços e arrematado com pedra-arenito. Ele também será restaurado, mantendo viva uma parte da história da cidade no século 19.