Erguido há mais de 90 anos, o prédio da Fundação Pão dos Pobres, em Porto Alegre, passa pela fase final da restauração mais importante da sua história, que busca resgatar seu aspecto original. As obras tiveram início em 2017 e devem ser concluídas em agosto de 2023, quando a fachada principal estará pintada e iluminada aos olhos de quem passa pela Avenida Praia de Belas em direção à Borges de Medeiros.
O imóvel de quatro andares foi construído entre 1925 e 1930 para servir de moradia a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Foi desenhado pelo célebre arquiteto alemão Joseph Franz Lutzenberger, pai do ambientalista José Lutzenberger. Naquela época, somente a cor amarela era acessível. É nesse tom que os porto-alegrenses voltarão a enxergar a construção que foi tingida de vermelho em 2002, quando passou pela sua única reforma, realizada pela mostra Casacor.
— No imaginário das pessoas, o prédio do Pão dos Pobres sempre foi amarelo. Era a cor mais em conta na época. Fizemos projeções e escolhemos a cor usada quando ele foi inaugurado, em 1930. É um tom um pouco diferente do escolhido pelo Lutzenberger, mas ficará muito semelhante ao que foi pensado por ele — diz o arquiteto responsável pela restauração, Lucas Volpatto.
Última etapa da reforma, a escolha da cor não foi difícil. Segundo Volpatto, o mais desafiador foi o início, quando era urgente encontrar uma solução para nivelar o prédio, que pendia cada vez mais para um lado, em direção à Rua da República. Erguida em uma área alagadiça de Porto Alegre, próxima ao Guaíba, a estrutura chegou a envergar 60 centímetros.
— O solo é de lodo, com muita matéria orgânica. Imagina que tem uma esponja embaixo do edifício. Toda vez que molha, balança — explica o arquiteto. — No decorrer de 90 anos, o prédio afundou esses 60 centímetros para um lado. Não tinha risco de colapso imediato, mas, ano a ano, afundava de dois a três centímetros.
Foi necessário colocar blocos de cimento no subsolo para dar sustentação à construção, processo chamado de injeção de solo-cimento e realizado ainda em 2017. A segunda etapa da restauração foi destinada às melhorias na parte interna, onde funcionam as casas de acolhimento que dão abrigo a 120 crianças e adolescentes, todos afastados de seus pais por medidas de proteção. Eram cômodos com rachaduras e infiltrações.
A gente trabalha com a reestruturação da vida de crianças e adolescentes, dando oportunidade para que sejam cidadãos dignos e que sonhem com um futuro melhor. Quando deixamos esse prédio mais bonito, estamos dizendo que as pessoas também podem se restaurar de suas cicatrizes
JOÃO ROCHA
Gerente da Fundação Pão dos Pobres
Nas três fase da restauração, foram gastos em torno de R$ 6 milhões. Todo o dinheiro é oriundo de doações espontâneas e leis de incentivo, garante o gerente da Fundação Pão dos Pobres, João Rocha. O curioso, para ele, é que levou mais tempo para recompor o prédio do que para erguê-lo, algo típico de uma instituição que depende de doações e ainda assim consegue servir cerca de 540 mil refeições por ano.
— Entre fornecer alimentação e arrumar o prédio, a gente sempre vai optar pela alimentação — frisa Rocha, que é tutor dos 120 menores que moram nas casas de acolhimento.
Para ele, conseguir entregar o prédio arrumando por dentro e por fora é algo simbólico — um exemplo do que fazem todos os dias com os menores que vivem ali.
— A gente trabalha com a reestruturação da vida de crianças e adolescentes, dando oportunidade para que sejam cidadãos dignos e que sonhem com um futuro melhor. Quando deixamos esse prédio mais bonito, estamos dizendo que as pessoas também podem se restaurar de suas cicatrizes.
A Fundação Pão dos Pobres foi fundada em 1895 para acolher órfãos e viúvas da Revolução Federalista. Atualmente, atende a 1,4 mil menores de idade, entre os residentes e os que participam de cursos profissionalizantes, oficinas no contraturno escolar e das aulas de música do projeto Orquestra Jovem do Rio Grande do Sul.
Instituição precisa de ajuda
Sobrevive de doações de pessoas e empresas, mas viu, nos últimos anos, as colaborações reduzirem 70%, reflexo da crise econômica decorrente da pandemia. A instituição precisa tanto de alimentos, como arroz, feijão e massa, como de produtos de limpeza, como balde e água sanitária. Esses itens podem ser deixados todos os dias na portaria, cujo endereço é Rua da República, n° 801.
Quem deseja fazer doações em dinheiro pode aproveitar para destinar o imposto de renda através do Funcriança. Pessoas físicas que optaram pelo modelo completo de tributação têm direito de destinar até 6% do valor devido. Para que o dinheiro chegue ao destino final, é necessário informar a instituição. É possível colaborar pelo link.
Doe ao Pão dos Pobres:
- Alimentos, como arroz, feijão, massa, leite, óleo de soja;
- Materiais de limpeza, como água sanitária, esponja, panos, baldes;
- Qualquer valor em dinheiro, pelo PIX: CNPJ 92.666.015/000101;
- Também é possível fazer depósito bancário na conta:
Banco do Brasil/ Agência: 0010-8/ Conta corrente: 205076-5