O alemão Friedrich Christoffel chegou ao Brasil literalmente apenas com a roupa do corpo. Em 1855, o imigrante e o irmão Guilherme estavam entre os passageiros de veleiro que naufragou na costa de Cabo Frio, no Rio de Janeiro. Os náufragos salvaram apenas a roupa que vestiam. Quando morreu em Porto Alegre, 60 anos depois, Christoffel era um rico industrial, pioneiro do setor cervejeiro.
Com detalhes da trajetória, o jornal A Federação publicou obituário de Frederico, nome adotado no Brasil. O "velho industrial" morreu aos 87 anos, em 27 de abril de 1915. Nos primeiros cinco anos no Brasil, sem falar português, ficou sozinho no Rio de Janeiro, já que o irmão não permanecera na capital brasileira. Ele trabalhou no comércio. Viajou a Porto Alegre em 1860.
O alemão abriu fábrica de cerveja, que ganharia fama no Rio Grande do Sul. Em 1904, reportagem em A Federação contou a história da indústria. Pelo texto, a cervejaria foi fundada em 1864 na Rua da Floresta (Avenida Cristóvão Colombo), se mudando depois para a esquina da Rua do Rosário (Rua Vigário José Inácio) com Caminho Novo (Rua Voluntários da Pátria).
Em propaganda no Annuario da Província do Rio Grande do Sul, em 1885, se apresentava como a mais antiga fábrica de cerveja da província, que também vendia cevada, lúpulo e rolhas para outros fabricantes. Em anexo ao estabelecimento, operava máquina de fazer gelo. Em 1886, a indústria recebeu um dos primeiros telefones de Porto Alegre, de número 89.
O auge da cervejaria foi na Rua Voluntários da Pátria, número 487. O fundador já não estava mais no comando. Em 1887, o alemão publicou anúncios sobre a transferência dos ativos e passivos da firma Frederico Christoffel & C. para Francisco J. Simon e Luiz Englert. A nova razão social ficou Frederico Christoffel Successores. O terreno é ocupado hoje por posto de combustíveis, na esquina das ruas Voluntários da Pátria e Almirante Tamandaré, no bairro Floresta.
As fotos da cervejaria são raras. Acima, estão duas imagens do acervo do pesquisador Ronaldo Bastos. Elas mostram a proximidade com o rio antes do aterramento da região no século 20.
Em 1904, a moderna fábrica permitia a produção da cerveja sem contato com o ar ambiente, indo direto para o engarrafamento. A bebida era "exportada para Norte, Rio, Ceará e sul do Estado". No setor de lavagem das garrafas, operavam escova rotativa e dois esguichos de água com pressão. A máquina frigorífica produzia 300 quilos de gelo por hora.
Em anexos da fábrica, ficavam estrebarias e depósito de carretas de transporte das mercadorias. Como a Rua Voluntários da Pátria estava às margens do rio, a empresa montou dois trapiches, sendo um com o edifício do Rudder-Verein Germania (atual Clube de Regatas Guaíba-Porto Alegre). Em terrenos ao lado da fábrica, ficava a pista da sociedade de ciclismo Radfahrer Verein Blitz e o campo do Fuss-Ball Club Porto Alegre, local do primeiro jogo oficial de futebol na cidade.
A cervejaria empregava 45 pessoas em 1904. A capacidade chegava a 1,5 milhão de garrafas por ano, trabalhando noite e dia. Em propaganda do Almanak Litterario e Estatistico, anunciava que disponibilidade em depósito, por exempleo, de cerveja simples, branca, preta e dupla. Por encomenda, fornecia cerveja em barril.
Com a fortuna da cerveja, Frederico Christoffel empreendeu em outras áreas, como na fábrica de móveis e cofres Berta e na fazenda de arroz Progresso. Ele foi sogro do empresário Alberto Bins, que seria prefeito de Porto Alegre. Além de ações filantrópicas, o empresário doou ao município o terreno para construção da Praça Júlio de Castilhos, no Moinhos de Vento, em frente à Vila Christoffel.
Sobre a fábrica na Rua Voluntários da Pátria, localizei propagandas até 1919.