Quando visitei o Memorial da Loucura, descobri que o Hospital Psiquiátrico São Pedro guarda um pequeno tesouro. Mesmo que possa estimular a imaginação, com certeza, o maior valor é histórico. A origem está no lançamento da pedra fundamental do hospício, em área de campo, no arraial do Partenon, em Porto Alegre.
O presidente da província de São Pedro do Rio Grande do Sul, Carlos Thompson Flores, comprou de Maria Clara Rabello as terras junto à Estrada do Mato Grosso, atual Avenida Bento Gonçalves. Em 2 de dezembro de 1879, em prestigiada celebração, deu largada à obra, projetada pelo engenheiro Alvaro Nunes Pereira. O governo escolheu a data de aniversário do imperador Dom Pedro II.
Durante a cerimônia, em um vão junto à pedra fundamental, foi colocada uma caixa de zinco, com outra de madeira dentro. De acordo com ata sobre o lançamento, Thompson Flores depositou moedas nacionais de cobre, níquel, prata e ouro, além de jornais do dia. Ele também deixou uma mensagem saudando a obra do hospício para tratar "os infelizes acometidos de alienação mental".
Claro, eu perguntei onde está o tesouro do São Pedro. Pela descrição da ata, embaixo do prédio principal, o primeiro do complexo do hospital. O texto indica que a caixa de zinco foi soldada em todos os lados para perpetuar a memória da construção. Sobre a pedra fundamental e a caixa, continuaram a "levantar o alicerce do edifício".
Em 29 de junho de 1884, o governo da província inaugurou o primeiro dos seis blocos do Hospício São Pedro. Na véspera, chegaram os primeiros 41 "alienados", transferidos da Santa Casa de Misericórdia e da cadeia pública. Outros dois blocos foram concluídos dois anos depois. Com necessidade de espaço, surgiram mais três pavilhões até 1903.
No auge da ocupação, entre o final dos anos 1960 e início da década de 1970, o hospital chegou a ter cinco mil internados. Desde a década de 1980, nenhum dos seis blocos históricos está em uso para tratamento médico. Em junho de 2023, o hospital tem apenas um paciente residente. Em anexos construídos depois, mais recentes, ainda opera com diversos setores: área de internação, ambulatórios, administrativo e residenciais terapêuticos.
Cenário de vários filmes, o conjunto de prédios antigos é tombado pelo Estado e pela prefeitura de Porto Alegre. O restauro começou, mas está suspenso. Sem dúvidas, o maior tesouro do São Pedro é este complexo, que precisa ser recuperado.
Será que a caixa de moedas, a cápsula do tempo, será encontrada um dia?