Leopoldis era o nome artístico de um ator italiano que descobriu Porto Alegre durante turnê em 1915. Poucos anos depois, Italo Majeroni voltaria para deixar legado como um dos pioneiros do cinema no Rio Grande do Sul. Nascido em Nápoles, em 1888, cresceu em uma família de artistas e logo foi para os palcos. Imitava aos 12 anos o artista Leopoldo Fregoli no transformismo, a arte de interpretar múltiplos personagens em cena. O pseudônimo Leopoldis foi uma homenagem ao ídolo.
Na companhia teatral do irmão Amedeo, viajou por vários países. Quando vieram à América Latina, Leopoldis ficou encantado com o Brasil. Em 7 de junho de 1915, estreou no Cinema Avenida, na capital gaúcha. O jornal A Federação anunciou a chegada do "artista inimitável" que estava conquistando aplausos das plateias no Rio de Janeiro e São Paulo. Ele era apresentado como "artista cômico, musicista, transformista e ilusionista".
Com os conhecimentos de cinema adquiridos na Itália, no mesmo ano, o italiano montou um pequeno laboratório em Recife, onde produziria cinejornal. Ele também atuou como ator de cinema mudo, integrando elenco do filme Vivo ou Morto (Luiz de Barros), lançado no Rio de Janeiro em dezembro de 1916.
Em 1918, The Great Leopoldis retornou a Porto Alegre, com apresentações no Peti Casino e no Orion. Nos anos 1920, o italiano fixou residência na capital gaúcha. De acordo com o Jornal do Dia, Leopoldis subiu ao palco pela última vez no Theatro Carlos Gomes, em 1923. No final da década, propagandas divulgavam festas no antigo Centro dos Caçadores, famoso cabaré, promovidas pela empresa I. Leopoldis.
O pesquisador Glênio Póvoas, autor de vários textos sobre o cineasta e que participou da catalogação do Arquivo Leopoldis-Som depositado na RBS TV, explica que não está claro nas fontes disponíveis o ano em que Leopoldis montou laboratório na Avenida Praia de Belas e começou a rodar películas. Um dos primeiros trabalhos teria sido a filmagem das obras do novo cais do porto, em 1924. Póvoas afirma que não se tem registro de outras filmagens até o documentário A revolução de 3 de outubro, de 1930. Em 1932, a empresa lançou no Cinema Central os primeiros dois números do cinejornal Atualidades Gaúchas.
A Leopoldis Film, do cinema mudo, virou Leopoldis-Som depois de 1937, quando introduziu áudio nos filmes. A história do italiano foi contada em reportagem da Revista do Globo em 1945. O único auxiliar na época era Fleury Bianchi. Leopoldis também fazia os próprios equipamentos para filmagem, com ajuda do amigo Erni Peixoto, engenheiro da Varig.
Com afastamento de Leopoldis, em meados dos anos 1950, Bianchi e Derly Martinez ficaram à frente da empresa, que adotaria o nome Cinegráfica Leopoldis-Som. Em 1965, incêndio destruiu boa parte do acervo em depósito na Rua Gonçalves Dias, no bairro Menino Deus. Assista ao vídeo abaixo. Felizmente, algumas cópias ficaram em outros locais. A empresa produzia muito por encomenda, tendo o governo do Estado como um dos principais clientes.
Entre as realizações da Leopoldis-Som, está a filmagem de Coração de Luto (Eduardo Llorente, 1967), o primeiro longa de Teixeirinha. A última produção da empresa é de 1980. Poucos anos depois, o acervo composto de filmes e equipamentos foi comprado pelo Museu do Trabalho. O fundador da instituição, Marcos Flávio Soares, conta que estava tomando um chope no Chalé da Praça XV quando descobriu que a coleção poderia ser levada para fora do Estado. No dia seguinte, procurou Fleury Bianchi para negociar. Depois da aquisição, as latas das películas passaram por sete depósitos até a parceria com a RBS TV, firmada em 2001. Em torno de mil rolos foram copiados em película 35 mm e telecinados para fitas Betacam, preservando parte da história em imagens do Rio Grande do Sul.
Italo Majeroni morreu em 21 de fevereiro de 1974. Mesmo com toda a contribuição para a cidade, Porto Alegre nunca homenageou o grande Leopoldis com o nome de rua, praça ou cinema.
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