O debate entre os presidenciáveis realizado pela TV Globo na noite dessa quinta-feira (29) produziu momentos de embate, um número recorde de direitos de resposta concedidos e pouquíssimo confronto aproveitável de ideias.
Não chega a ser condenável sob o ponto de vista da ausência propostas, porque debate pressupõe, mesmo, um confronto. Nesta perspectiva, talvez as entrevistas sejam mesmo o melhor espaço para aprofundar melhor "o que" e "como fazer".
Mas a grande dúvida a ser respondida a dois dias do domingo de eleição não pôde ser sanada, e a incógnita segue para as campanhas dos candidatos à Presidência: haverá segundo turno ou os eleitores decidirão quem vai governar o país pelos próximos quatro anos já no primeiro turno?
É a pergunta de milhões, dizem os analistas.
O que o PT mais quer é que a discussão se encerre agora, no próximo domingo. E não à toa. O ex-presidente Lula e aliados sabem que o segundo turno é uma nova eleição e que a pauta de costumes, terreno de Bolsonaro, deve vir com tudo caso a corrida avance para uma próxima etapa.
Os aliados de Bolsonaro, por outro lado, trabalham com afinco para que evitar que indecisos e eleitores dispostos a votar nos demais (Ciro Gomes e Simone Tebet, por exemplo) migrem para o ex-presidente petista. Não ao acaso, o atual chefe do Executivo radicalizou o discurso nos últimos dias, com ataques diretos e incisivos à figura do ex-presidente — o que aliás gerou boa parte dos pedidos de direito de resposta à noite passada.
O que se ouve da campanha de Bolsonaro, nos bastidores, é que é preciso ganhar mais algumas semanas já que até aqui ele não conseguiu reverter a desvantagem numérica nas pesquisas de intenção de voto.
Sobre os momentos incômodos de bate-boca — que exigiram até mesmo uma intervenção professoral do mediador William Bonner —, é importante lembrar, como pontuou o professor Carlos Borenstein, que "agressividade tende a não ser bem recebida pela opinião pública", em especial junto aos indecisos.
Para os que já decidiram entre este ou aquele (85% dos eleitores dizem já estar totalmente decididos, segundo o Datafolha), nada muda. Mas como é preciso buscar votos entre os demais, nada indica que seja a melhor estratégia.
"Debate ficou distante do Brasil real", pontuou Borenstein.
Por isso mesmo é que a indefinição quanto a primeiro e segundo turnos permanece.