A três dias das eleições, a TV Globo realizou entre a noite desta quinta-feira (29) e a madrugada de sexta (30) o último debate entre candidatos à Presidência da República no primeiro turno. Participam do encontro os candidatos Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PL), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Felipe D’Avila (Novo), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Padre Kelmon (PTB).
Conforme prevê a lei eleitoral, foram convidados candidatos de partidos com representação no Congresso Nacional de, no mínimo, cinco parlamentares e sem impedimento na Justiça, seja eleitoral ou comum. O evento foi transmitido ao vivo, direto dos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro.
A seguir, veja como foi o debate:
Resumo
O debate teve início após a novela Pantanal, mediado pelo jornalista William Bonner, apresentador e editor-chefe do Jornal Nacional. O posicionamento dos candidatos no estúdio foi definido por ordem alfabética do primeiro nome. Da esquerda para a direita, Ciro Gomes, Jair Bolsonaro, Padre Kelmon, Luiz Felipe D’Avila, Luiz Inácio Lula da Silva, Simone Tebet e Soraya Thronicke.
O debate teve quatro blocos. O primeiro e o terceiro tiveram temas livres. O segundo e o quarto contaram com temas predeterminados. Cada candidato teve tempo para considerações finais ao final do quarto bloco.
Os postulantes ao Planalto tiveram 30 segundos para fazer as perguntas e um minuto para a réplica. O candidato que respondeu teve três minutos, que podiam ser divididos entre a resposta e a tréplica, de acordo com a vontade dele.
As perguntas, em ordem sorteada previamente, foram realizadas sempre de candidato para candidato. O político escolhia para quem direcionar sua pergunta, entre os concorrentes que ainda não tivessem respondido naquele bloco. No bloco de temas determinados, o esquema foi igual, com o mediador sorteando, antes das perguntas, o tema que a ser abordado.
O debate em fotos
Bloco a bloco
Primeiro bloco
Os candidatos perguntaram sobre tema livre.
- O debate começou com Ciro perguntando a Lula. Ele questionou sobre a concentração de renda que teria crescido durante o governo do petista, que rebateu dizendo que a sua gestão gerou 33 milhões de empregos e que todo mundo ganhou dinheiro.
- Padre Kelmon se dirigiu a Bolsonaro, lembrando do combate à covid-19, e perguntou se o presidente pretende manter o auxílio de R$ 600. Bolsonaro disse que sim, a 20 milhões de famílias. Kelmon criticou a esquerda, dizendo que ela quer calar a voz da Igreja. O presidente salientou que "Lula foi o chefe de uma grande quadrilha".
- Lula obteve direito de resposta sobre a acusação de Bolsonaro de que teria formado uma quadrilha. O ex-presidente se referiu às acusações sobre as suspeitas de rachadinhas envolvendo um filho de Bolsonaro e à "quadrilha das vacinas". Bolsonaro também obteve direito de resposta e atacou Lula: "Mentiroso, ex-presidiário". Em novo direito de resposta, Lula afirmou: "Vou fazer um decreto acabando com o seu sigilo de cem anos".
- Depois da sequência de direitos de resposta, D'Avila comentou com Ciro sobre o governo Lula. O pedetista falou sobre corrupção e desemprego nos governos petistas. D'Avila questionou a "capacidade moral" do ex-presidente e lembrou do mensalão. Ciro afirmou que R$ 16 bilhões foram devolvidos por casos de corrupção no governo do PT.
- Bolsonaro se dirigiu a Simone Tebet, citando a morte do prefeito petista Celso Daniel (de Santo André-SP, assassinado em 2002). Simone estranhou a pergunta feita a ela, e perguntou se era falta de coragem de perguntar a Lula, e falou da fome no Brasil. O presidente disse que a fome foi causada pelo "fique em casa" durante a pandemia. Simone reclamou dos ataques mútuos entre os candidatos e criticou a política de combate à pandemia do governo Bolsonaro.
- Lula obteve direito de resposta sobre a morte de Celso Daniel. "Celso Daniel era meu amigo. O TSE acaba de tirar do ar as mentiras da tua família sobre Celso Daniel", disse.
- O ex-presidente perguntou a Soraya sobre haver 31 milhões de pessoas com fome no Brasil e a proposta dela para o problema. A candidata do União Brasil disse que se acumulam 20 anos de corrupção e má gestão e defendeu sua proposta de instaurar um imposto único federal. Lula respondeu listando suas medidas quando estava na Presidência para combater a corrupção. Soraya apontou que mesmo assim houve o mensalão e o petrolão.
- Bolsonaro obteve direito de resposta. Afirmou que deu R$ 600 de Auxílio Brasil, mais do que o PT concedia aos pobres. Falou de endividamento de R$ 900 bilhões da Petrobras.
- Soraya questionou Padre Kelmon sobre a quantas pessoas ele deu a extrema-unção na pandemia. Kelmon reclamou de mentiras e defendeu a redução do tamanho do Estado. A candidata do União Brasil chamou Kelmon de "cabo eleitoral do candidato Bolsonaro", e pediu para que ele dissesse como consolaria as vítimas da covid-19. Kelmon pediu respeito a Soraya porque estava sendo "mandado ao inferno por uma mulher" que diz que a solução "é cobrar um imposto único".
- Em novo pedido de resposta concedido, Lula lamentou que poderiam estar debatendo sobre o futuro do país. Salientou que graças às medidas tomadas em seu governo os casos de corrupção foram descobertos, e citou suspeitas sobre a família Bolsonaro.
- Simone Tebet perguntou a Felipe D'Avila sobre como zerar as filas na saúde pública. O candidato do Novo defendeu a digitalização do atendimento e o foco na saúde primária. Simone prometeu aumentar o dinheiro investido no SUS caso seja eleita, e D'Avila ressaltou que é preciso envolver os hospitais privados e avaliar o serviço público.
Segundo bloco
Os candidatos fizeram perguntas sobre temas determinados por sorteio.
- O bloco abriu com o tema cotas raciais. D'Avila disse a Lula que R$ 120 bilhões se perderam na corrupção, e pediu como explicar que não sabia do que estava ocorrendo. O ex-presidente pediu a fonte do número citado pelo candidato do Novo e defendeu as cotas, pois dá ao "povo periférico a chance de estudar". D'Avila afirmou que Lula deveria pedir desculpas pelo "assalto ao povo brasileiro". Lula respondeu que o povo quer que ele vote porque tem saudade do emprego e do reajuste do salário mínimo.
- Para Simone caiu o tema mudanças climáticas, e ela dirigiu a pergunta a Bolsonaro, afirmando que o governo dele foi o que mais deixou as florestas queimarem. O presidente respondeu que periodicamente alguns locais pegam fogo naturalmente, como o pantanal, e salientou que a área de floresta é tão grande que é difícil cuidar.
- Coube a Padre Kelmon o tema educação, que dirigiu a Ciro um questionamento sobre filhos de ricos estudarem em universidades públicas e os pobres terem que pagar pelo estudo. O pedetista propôs a expansão da universidade pública e prometeu colocá-la entre as 10 melhores do mundo. Kelmon defendeu o investimento na educação de base para impedir que os estudantes se transformem em militantes de esquerda. Ciro citou o Ceará como exemplo de projeto de educação, e disse que a formação de militantes de esquerda é mais lenda do que fato.
- Combate ao racismo foi o tema que caiu para Soraya. Ela escolheu Padre Kelmon, e citou casos de integrantes do governo que tiveram comportamento racista. O padre discordou e disse que todos são iguais, e voltou a atacar a esquerda. Soraya chamou Kelmon de "padre de festa junina".
- Bolsonaro questionou D'Avila sobre a relação com o Congresso, comentando sobre a troca de favores entre o Executivo e o Legislativo. D'Avila afirmou que no governo do atual presidente isso ocorreu, e deu como exemplo o orçamento secreto. Bolsonaro disse que vetou o orçamento secreto e que não indica um centavo para isso e que não há troca de cargos por apoio parlamentar. O candidato do Novo disse que esses mecanismos, como orçamento secreto e mensalão, vêm corroendo o país, e que governo sério diz onde vai cortar e não deixa o parlamento tomar conta do orçamento.
- Kelmon obteve direito de resposta em relação a comentário de Soraya, e afirmou que ela não teve respeito e que desconhece o valor de um sacerdote.
- Lula perguntou a Simone sobre meio ambiente. Ela prometeu desmatamento zero se for eleita e que cumprirá o Acordo de Paris. O ex-presidente prometeu que em um governo seu proibirá todos os garimpos ilegais.
- Com o tema emprego, Ciro comentou com Soraya que tem um projeto para renegociar dívidas e estabelecer um plano de renda mínima, e que vai gerar 5 milhões de empregos. Soraya disse que sua ideia de um só imposto federal ajudará na geração de empregos, pois vai desonerar a folha de pagamentos. Além disso, prometeu uma negociação de dívidas de empresas em troca de geração de postos de trabalho. O pedetista ressaltou que retomará 14 mil obras paradas.
Terceiro bloco
Os candidatos perguntaram sobre tema livre.
- Bolsonaro iniciou o bloco falando a D'Avila que o PIB está crescendo, a inflação caindo e há previsão de criar 3 milhões de empregos, e perguntou ao concorrente o que ele pensa sobre a possibilidade de a esquerda ganhar a eleição. O candidato do Novo disse que se a esquerda assumisse o poder seria um desastre, e defendeu a reforma trabalhista. O presidente defendeu que apesar da pandemia, muito foi feito, e destacou a redução de impostos em itens como etanol, gasolina e telecomunicações. D'Avila afirmou que importantes projetos foram aprovados, como o marco do saneamento, mas sugeriu que mais seja feito.
- Padre Kelmon se dirigiu a Lula, afirmando que vários dos "comparsas" do petista foram presos e o denunciaram. O ex-presidente repetiu que a corrupção só apareceu graças às medidas do PT, e chamou o padre de "candidato laranja". Lula afirmou que recebeu 26 denúncias "mentirosas" e que foi absolvido pela Suprema Corte. Kelmon interrompeu Lula várias vezes, e o ex-presidente criticou o que chamou de padre "fantasiado".
- D'Avila perguntou a Simone sobre o tamanho do Estado. "O Estado tem que cuidar da saúde do povo, da educação e da segurança pública", afirmou Simone. D'Avila afirmou que em seu governo vai privatizar estatais para evitar corrupção.
- Ciro questionou Bolsonaro sobre as "acusações pesadas" sobre a família do presidente. Bolsonaro respondeu que não há corrupção na família dele. O pedetista apontou que Bolsonaro vendeu ativos públicos por preço baixo. O presidente afirmou que esses negócios não passam por ele.
- Lula perguntou a Ciro sobre a questão da cultura, que disse que está desmontada. Ciro prometeu recriar o Ministério da Cultura e rever leis de fomento, como a Lei Rouanet, que considera que centraliza recursos no Rio de Janeiro e em São Paulo. O petista afirmou que quer criar comitês pelo país para destacar a cultura periférica. Ciro acusou Lula de ter amigos no meio que concentram os recursos.
- Soraya perguntou a Padre Kelmon sobre educação. Ele defendeu as escolas de base, e Soraya pediu que a educação seja mais valorizada.
- O assunto educação voltou a ser sugerido, agora por Simone. Soraya lembrou das crianças fora da escola e citou que houve cinco ministros da Educação no atual governo, e um deles chegou a ser preso. Simone garantiu que se eleita mudará essa realidade, com conexão nas escolas e um incentivo de R$ 5 mil a quem se formar, dinheiro que tiraria do orçamento secreto. Soraya criticou a falta de privatizações no atual governo.
- Bolsonaro obteve direito de resposta por comentário de Simone. Ele disse que o Congresso derrubou o seu veto ao orçamento secreto e defendeu sua política de combate à pandemia.
Quarto bloco
Os candidatos fizeram perguntas sobre temas determinados por sorteio.
- Com o tema segurança pública, Soraya inquiriu Bolsonaro sobre a frase dele de que só respeitaria as eleições se fossem limpas. O presidente disse que Soraya pediu cargos no governo e não ganhou, e por isso está contra ele. Ela confirmou que alguns cargos foram preenchidos por apoiadores do então candidato Bolsonaro, e perguntou se ele se vacinou contra covid-19. O presidente destacou a compra de vacinas em seu governo e criticou a CPI da Covid e disse que ela é "candidata laranja".
- Soraya obteve direito de resposta sobre a acusação de ser "candidata laranja" e afirmou que ele não respondeu sobre se vacinou e disse que Bolsonaro abandonou quem o apoiou antigamente.
- Sobre gastos públicos, Simone disse a Lula que o governo do PT é semelhante ao de Bolsonaro por gastar mal e pelas denúncias de corrupção. O ex-presidente respondeu que pegou o Brasil em 2002 com 12% de inflação e a reduziu para 4,5%, gerou 22 milhões de empregos, começou a fazer uma reserva em dólares e realizou o PAC. A emedebista perguntou o que Lula fará com estatais deficitárias. Lula respondeu que vai fortalecer a Caixa, o BNDES, e que se tiver uma "estatal que não presta para nada, acabou".
- Em direito de resposta, Bolsonaro fez um apelo a eleitores de Mato Grosso do Sul para que votem no candidato Capitão Contar porque Simone não tem gratidão pelo que o presidente fez.
- Bolsonaro escolheu Padre Kelmon para comentar sobre política cultural. Kelmon criticou peças teatrais com "pessoas peladas", financiadas com dinheiro da Lei Rouanet. O presidente exaltou o ex-secretário especial de Cultura Mario Frias, que, segundo ele, "moralizou a Lei Rouanet".
- Com o tema privatização, Ciro afirmou a Soraya que algumas foram boas, como as de estatais de mineração e de telefonia, mas petroleiras não devem ser desestatizadas. A candidata aproveitou para criticar Bolsonaro, dizendo que as indicações de cargos que fez ao presidente saíram porque não aceitaram fazer rachadinhas. Depois, afirmou que estatais devem ser privatizadas.
- Para D'Avila foi sorteado o tema saúde. Ele perguntou a Simone como melhorar a situação. A candidata afirmou que é preciso que o governo federal volte a investir no SUS e que os governos estaduais não estão dando conta de manter os hospitais espalhados pelo país. D'Avila defendeu a digitalização do setor para combater o desperdício de dinheiro.
- Com o tema habitação, Padre Kelmon exaltou o programa Casa Verde Amarela e perguntou a D'Avila o que faria nessa área. O candidato do Novo comentou que o FGTS não deve financiar a habitação, e sim o orçamento nacional, para que a população gaste valores do fundo "como quiser". Kelmon falou sobre as pessoas que moram nas ruas e aguardam por ações que as ajudem. D'Avila defendeu que os Estados tenham mais poder e que o financiamento da habitação pública seja revisto.
- Lula perguntou a Ciro, dentro do tema agricultura, se é necessário "continuar a loucura do desmatamento irresponsável para ampliar a agricultura". O pedetista disse que é preciso fazer zoneamento, e o petista defendeu a recuperação de solos degradados. Lula defendeu a criação do Ministério dos Povos Originários. Ciro alertou que hoje o cenário é muito diferente e mais difícil daquele em que o petista esteve na Presidência.
Considerações finais
Ao final, todos tiveram 1min30s para suas considerações finais.
- Felipe D'Avila: "Que tristeza encerrar um debate presidencial com essa baixaria de sempre. O Brasil não vai sair desse atoleiro se nós elegermos esses governos que nos colocaram esse buraco. Um país dividido não cresce".
- Ciro Gomes: "Essa situação que está aí parece uma briga muito feia, mas por trás está o mesmo sistema. Não deixa o sistema entrar na sua cabeça, eles montam uma máquina de propaganda. Nós faremos história".
- Padre Kelmon: "Vocês viram como me trataram aqui, com tanto ódio. Vote naquele partido que defende Deus, família, liberdade".
- Soraya Thronicke: "Entrem no meu Twitter a vejam a foto que eu postei. Essa foto mostra uma criança da calçada olhando uma família em um restaurante. Aquilo me tocou. Não adianta candidatos falarem, falarem, falarem. Vamos juntos mudar essa história".
- Simone Tebet: "O futuro do Brasil está em sua mão. Peço que faça uma reflexão nesse momento tão difícil do Brasil, se a escolha tem que ser pelo menos pior ou pelo seu coração. Um não vai deixar o outro governar se perder a eleição. Nós faremos diferente".
- Luiz Inácio Lula da Silva: "O povo pode escolher aquele que soube resolver os problemas do Brasil. Tenho orgulho do Prouni, do Brasil sem Fronteiras, de ter virado protagonista internacional. Tenho orgulho de ter sido escolhido o melhor presidente do brasio e vocês sabem o que nós podemos fazer".
- Jair Bolsonaro: "Deus, pátria, família e liberdade. Temos um governo que respeita a todos, que está rompendo quatro anos sem corrupção. Um governo que diz não ao aborto, que respeita as crianças em sala de aula, que diz não à ideologia de gênero. Queremos continuar com o seu voto".