O encontro que reuniu o ex-governador Eduardo Leite (PSDB), o presidente do MDB no Rio Grande do Sul, Fábio Branco, e o ex-governador Germano Rigotto na terça-feira (7), em Porto Alegre, encaminhou boa parte da conversa sobre uma aliança em nível estadual, conforme pediu a pré-candidata do MDB à Presidência, Simone Tebet.
Na segunda, Tebet se manifestou abertamente, apelando para que emedebistas e tucanos se reunissem a fim de selar uma parceria que viabilizasse a chapa, também, em nível nacional. Contudo, garantir a dobradinha Eduardo Leite-Gabriel Souza não será tarefa fácil e muito menos missão para poucos dias de conversa.
A coluna conversou com diferentes líderes do MDB nos últimos dias. E há aspectos importantes a serem listados para um entendimento do contexto.
O primeiro deles é a disputa interna, que ficou ainda mais evidente quando da suspensão da realização das prévias em fevereiro, quando ainda estavam postos os nomes de Alceu Moreira e Gabriel Souza como pré-candidatos a governador do RS pela sigla.
Vale lembrar: a divisão foi tão forte que líderes decidiram cancelar a escolha interna, a fim de evitar danos ainda maiores — e que ficaram absolutamente expostos naquele processo. Pouco tempo depois, em março, Gabriel Souza seria o nome definido a partir do diretório estadual, com 57 votos favoráveis e dois contrários.
Na ocasião, como contou GZH, emedebistas como o ex-senador Pedro Simon, o ex-governador Germano Rigotto e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, não compareceram à reunião. Alceu Moreira, que havia disputado a indicação com Gabriel, foi outro que se recusou a participar. O ex-governador José Ivo Sartori estava presente.
Portanto, pedir unidade a essa altura do campeonato é tarefa quase impossível no MDB.
Mas isso significa que não haverá acordo? Absolutamente não. Há quem diga que é provável que os dois partidos estejam unidos, mas que esse tipo de costura "não sairá do dia pra noite" e será necessário intenso trabalho interno.
Entre os que não querem a aliança com Leite de jeito nenhum pesam alguns argumentos : a perda de protagonismo do partido no RS (firmar posição muitas vezes é questão de sobrevivência nas disputas no Interior, por exemplo), a promessa de Leite que não seria candidato e que era contra a reeleição (o que, aliás, garantiu ao então governador apoio em vários projetos importantes na Assembleia) e as mágoas remanescentes da eleição em que Leite derrotou Sartori em 2018.
Por outro lado, a ala que apoia a aliança entende que há chance real de vitória de Eduardo Leite, em especial caso o MDB esteja coligado, indicando o vice, e pondera que o discurso de não dividir forças do centro em nível nacional vale também para o RS (para tentar quebrar a polarização entre candidato de Bolsonaro x candidato de Lula). O próprio Leite expressou ao podcast "Zona Eleitoral" a preocupação com populismo de direita (Bolsonaro) e de esquerda (Lula) no RS.
Além disso, caso o MDB mantenha candidatura própria, deverá contar com menos recursos do fundo partidário e tempo de TV menor. O que pode também influenciar negativamente, no sentido de uma diminuição das bancadas em nível estadual e federal — exatamente o que o partido não quer.
De qualquer sorte, há quem observe que já um grande derrotado em todo esse processo: o próprio partido, que está rachado internamente e terá dificuldades para refazer a unidade num futuro próximo.