O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD), reagiu de maneira enfática às declarações do presidente Jair Bolsonaro, em entrevista exclusiva ao repórter Eduardo Matos, da Rádio Gaúcha, neste sábado (10). Ao se referir às investigações da comissão, o presidente chamou de bandido não somente o comandante da comissão, mas também o vice, senador Randolfe Rodrigues (Rede) e o relator, Renan Calheiros (MDB).
À coluna, Omar disse que não pretende descer ao que chamou de nível de debate do cercadinho, alusão à linguagem utilizada pelo capitão ao se comunicar com seu grupo de apoiadores. Ele repetiu que Bolsonaro deve uma resposta à população, a respeito do encontrou (ou não) com o deputado Luis Miranda (DEM), que afirma ter contado ao presidente sobre denúncias de irregularidades envolvendo a compra da Covaxin.
— O presidente recebe o Luis Miranda na casa dele, ele vai com um servidor concursado (o irmão é servidor do Ministério da Saúde), leva um documento e ele (presidente) não toma providência? (...) Nós queremos saber. Se o deputado Luís Miranda lhe levou a denúncia, por que o senhor não tomou providência? Por que o senhor prevaricou? Presidente, por que o senhor não comprou a vacina mais barata? Por que esse interesse em comprar vacina de intermediário e não diretamente do laboratório? — questionou.
Omar Aziz também condenou a maneira "agressiva" com a qual o presidente se referiu aos parlamentares e disse que a CPI não seguirá o mesmo caminho.
— A CPI não quer o debate da agressão. Não quer o debate de quem fala mais alto. Não o debate em que ele (Bolsonaro) chama um profissional da imprensa de quadrúpede, que ele grita, que ele pergunta e escolhe qual é a rádio que ele quer falar — completou.
À frente da CPI da Covid, que atualmente se debruça sobre as suspeitas de irregularidades na compra de vacinas, Aziz também cobrou uma resposta objetiva aos questionamentos enviados por carta ao chefe do Executivo. O senador chegou a ironizar o silêncio de Bolsonaro, dizendo que mandaria uma pergunta de múltipla escolha, quando as respostas são oferecidas a um estudante para que ele apenas marque um X.
— Nós temos que olhar com uma certa desconfiança para essa questão de ele (Bolsonaro) ficar mudo. Quer me ofender, me ofenda. Mas responda ao povo brasileiro: presidente, o Luís Miranda lhe levou denúncias sérias e o senhor não tomou providências? Sim ou não? Só isso. Não vai tirar teu dedo. Não vai tirar tua língua. Só sim ou não. Ele não consegue responder uma palavra simples. Já que ele não conseguiu responder uma carta, acho que vamos ter que mandar para ele uma carta com múltiplas respostas. Que aí é só marcar um x. Não precisa escrever nada — acrescentou.
Omar Aziz também fez um forte desabafo condenando o fato de Bolsonaro ter promovido uma motociata em Porto Alegre, enquanto o Brasil ostenta a trágica marca de mais de 500 mil mortes por covid.
— Ele não tem tempo para governar, mas tem tempo para andar de moto. O país numa crise dessas, com desempregados, com uma distribuição de renda falida, pessoas pobres cada vez mais pobres, pessoas morrendo de covid e o presidente passeando de moto. A nossa indignação com o presidente é porque ele não respeita nem os óbitos, nem as famílias, as crianças que ficaram órfãs. Ele está passeando de moto no Rio Grande do Sul. O presidente não respeita o ser humano. O comportamento dele é anormal. Não é de uma pessoa que tenha um raciocínio normal. Você me desculpe o meu desabafo, a minha indignação. As pessoas perderam amigos, perderam familiares. Presidente, o senhor está passeando de moto, enquanto tem gente morrendo. Presidente, numa crise dessas, o senhor tinha que trabalhar sábado, domingo, feriado. Ele tem tempo pra passear de moto, agora pergunta qual é o hospital que ele visitou, que ele se dignou a ir lá e ser solidário a uma família, ir demonstrar para as famílias que era solidário. Nenhuma. O Brasil não precisa de um passeador de moto, o Brasil precisa de um presidente que governe, tenha solidariedade e seja humano, coisa que ele não é — concluiu.