É um dia duro para os anti-comunistas. Depois da vacina chinesa, o papa Francisco resolveu atentar contra os valores da família tradicional brasileira, dizendo que casais homoafetivos também são filhos de Deus. Ora, cristão que é cristão (raiz!) sabe que Deus pode até pregar o amor, mas alto lá! Se for entre dois homens ou duas mulheres, vamos falar o português bem claro, não há amor de Deus que perdure e aí, meus queridos, é chicotada neles.
O primeiro parágrafo desta coluna contém ironia e achei prudente explicar.
Trata-se de uma crítica a quem costuma recorrer à religião para justificar seus próprios preconceitos e maus sentimentos quanto à felicidade do outro. E a ironia tem razão de ser. Isto porque nesta quarta-feira (21) o papa Francisco se manifestou a favor de direitos civis, inclusive a união, para homens e mulheres gays.
Como já escreveu aqui em GZH meu colega e colunista Paulo Germano, Francisco tem sido um crítico contundente do clericalismo – que é a “interferência do clero, dos padres, do sacerdócio na vida social ou política dos fiéis”. No clericalismo, lembrou o PG, “a palavra final é sempre do padre (ou do pastor): ele diz o que é certo, o que é errado, o que pode, o que não pode”. Seria como se a Igreja fosse nosso pai ou nossa mãe. E nos botasse de castigo a cada vez que não fizéssemos o que ela manda.
O papa Francisco, por sua vez, está na linha de algo que chamamos de “autonomia das consciências" (mais uma vez obrigada PG!). Essa perspectiva entende que as pessoas precisam decidir as coisas por conta própria. Como no caso em que Jesus curou um doente num sábado, narrado no Evangelho de São Marcos. Os fariseus (essas danadinhos!) tentaram pegar Jesus no contrapé, após a cura, e perguntaram se ele achava mesmo correto fazer aquilo, já que o sábado era - em nome de Deus (da pátria e da família, rs) - o dia reservado somente ao descanso. A resposta de Jesus: "O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado".
A fala do papa Francisco nesta quarta é um sopro de luz quanto à necessidade de avanço sobre a discussão dos direitos civis da população LGBTQIA+. Mais do que nunca precisamos aprender, revisar erros históricos e assegurar leis mais inclusivas, para proteção de cidadãs e cidadãos que em nada diferem dos outros em direitos por conta de sua orientação sexual. Em um dia em que o obscurantismo condenou até mesmo a vacina por viés comunista (!), é um alento ver que há esperança no debate e razões para acreditar numa sociedade mais justa e mais fraterna.