Não durou nem 24 horas o anúncio feito pelo ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, sobre a compra de 46 milhões de doses da vacina contra o coronavírus que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com a empresa chinesa Sinovac. Demonstrando mais uma vez seu desapreço pela ciência e uma cegueira ideológica singular, o presidente Jair Bolsonaro se comunicou desta forma com um seguidor nas redes sociais nesta quarta-feira (21):
"Presidente, a China é uma ditadura, não compre essa vacina, por favor. Eu só tenho 17 anos e quero ter um futuro, mas sem interferência da Ditadura chinesa".
"NÃO SERÁ COMPRADA", respondeu Bolsonaro em letras maiúsculas.
A compra das doses havia sido anunciada ontem por Pazuello, em reunião com governadores sobre o enfrentamento à covid-19 — e fora elogiada justamente por desconsiderar eventuais rusgas e picuinhas políticas entre o governo federal (Bolsonaro) e governo de São Paulo (João Dória).
Após a divulgação da notícia, o governador João Dória, desafeto de Bolsonaro, saudou a postura do ministro, dizendo que o Brasil precisa de "união". A fala do tucano tinha endereço certo, já que Bolsonaro e ele tem trocado farpas públicas por conta das pretensões políticas com foco na eleição de 2022.
Antes mesmo da mensagem de Bolsonaro nas redes, a reportagem do portal Poder360, sob o comando do jornalista Fernando Rodrigues, já havia apurado que Bolsonaro enviara mensagens a ministros com o seguinte teor: “Alerto que não compraremos vacina da China. Bem como meu governo não mantém diálogo com João Doria sobre covid-19".
Perde o país e perdem milhões de brasileiros quando a picuinha política, autorizada pelo presidente da República, se sobrepõe à preocupação com a saúde da população. A compra de vacinas deveria ter como norte critérios técnicos e científicos, sem indícios de contaminação ideológica.
Isso sem falar na fritura do general Eduardo Pazuello, desautorizado pelo presidente, tal como o antecessor Luiz Henrique Mandetta. Não bastasse a pandemia, o Brasil ainda precisa lidar com a irresponsabilidade de quem foi eleito para chefiar a nação.