Em um filme exibido em um festival nesta quarta-feira (21) na Itália, o papa Francisco disse que é preciso criar leis que defendam a união civil de homossexuais. No filme Francesco, ele aborda temas com os quais se importa, como ambiente, pobreza, migração, desigualdade racial e de renda e pessoas mais afetadas por discriminação.
— As pessoas homossexuais têm o direito de estar em uma família, são filhos de Deus, possuem direito a uma família. Não se pode expulsar ninguém de uma família, nem tornar sua vida impossível por isso. O que temos que fazer é uma lei de convivência civil, eles têm direito a estarem legalmente protegidos. Eu defendi isso — afirma Francisco durante a obra dirigida pelo americano de origem russa Evgeny Afineevsky.
A Igreja Católica é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e as declarações representam um ponto de virada em relação ao posicionamento de seus antecessores, incluindo o papa emérito Bento XVI, recluso no Vaticano.
— Desde o início do pontificado, o Papa fala de respeito aos homossexuais e que é contra sua discriminação. A novidade hoje é que defende como Papa uma lei para as uniões civis — explicou à agência Rainews a vaticanista Vania de Luca.
Esta é a primeira vez que o Papa se pronuncia abertamente em favor da união civil homossexual. No passado, Francisco já havia pregado o respeito aos gays e expresso seu interesse em dialogar com esse grupo.
Em 2010, quando era arcebispo de Buenos Aires, Francisco se opôs publicamente aos esforços para legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo no país. Biógrafos e pessoas próximas ao Pontifíce dizem, porém, que, individualmente e no ambiente privado, ele defendia a ideia.
Em 2014, em entrevista ao jornal Corriere della Sera, Francisco disse que a Igreja ensina que casamento é entre um homem e uma mulher. Ainda de acordo com o jornal, o Papa declarou ser preciso "considerar casos diferentes e avaliar cada caso em particular".
Segundo a agência RNS, ele disse que entende que governos queiram adotar a união civil para casais gays por razões econômicas. O Vaticano então clarificou que Francisco falava de forma genérica e que as pessoas não deveriam interpretar as palavras do Papa além do que elas dizem.
Depoimentos
O documentário, de duas horas de duração, percorre os sete anos de pontificado e suas viagens com depoimentos e entrevistas.
Entre os momentos mais emocionantes do filme, o Papa faz uma ligação para um casal homossexual, com três filhos pequenos, em resposta a uma carta que recebeu deles na qual contam a vergonha que sentem por levar seus filhos à paróquia. Francisco os convida a continuar comparecendo à igreja independentemente dos julgamentos dos demais.
Outro depoimento comovente é o do chileno Juan Carlos Cruz, vítima e ativista contra os abusos sexuais, que acompanhou nesta quarta-feira o diretor na exibição do filme em Roma.
— Quando conheci o papa Francisco, ele me disse que sentia muito pelo ocorrido: "Juan, foi Deus quem te fez gay e em todo caso te ama. Deus te ama e o papa também te ama" — conta Cruz no filme.
Afineevsky, que compareceu à audiência geral do Papa no Vaticano nesta quarta, ganhou com o documentário Francesco o prêmio Kineo da humanidade, destinado àqueles que promovem questões sociais e humanitárias. O diretor foi indicado a um Oscar e um Emmy em 2016 por Winter of Fire e em 2018 recebeu três indicações ao Emmy por Cries from Syria.