À frente da universidade federal responsável por realizar a pesquisa que estima o percentual de pessoas com anticorpos para o coronavírus e avalia a velocidade de expansão da doença no país (UFPel), o reitor Pedro Curi Hallal não economizou nas palavras ao avaliar o momento crucial vivido pelo Rio Grande do Sul. Na Capital, por exemplo, a ocupação de UTIs está próxima ou superior a 90% na maioria dos hospitais que tratam pacientes com o novo coronavírus.
Por conta disso, afirmam os profissionais de saúde, a triste cena que já fora verificada em outros países - sobre ter que decidir quem vai ser atendido ou não - talvez se torne realidade num futuro breve em solo gaúcho.
Diante desta perspectiva, sustenta Hallal, a solução seria que autoridades adotassem um modelo rigoroso de lockdown; o que na prática significa atividades restritas em seu nível máximo e a exigência de autorização do poder público para que a população possa sair de suas casas.
- Na prática, tudo fechado. Não tem comércio, não tem padaria. Só tem farmácia e mercado com horário super controlado, talvez até agendando horário. Cidade deserta mesmo. (...) Nos lugares onde se fez um lockdown rigoroso, os números não voltaram a subir. Nem em Wuhan, na China - argumentou.
Hallal disse também que se pudesse dar uma recomendação ao governador do Estado, Eduardo Leite, seria para que os municípios gaúchos fechassem as portas por até três semanas para evitar o contágio e o consequente aumento de casos, "inclusive, para a economia, essa é a melhor solução". Contudo, admitiu compreender que os setores de comércio, indústria e serviços estejam sofrendo prejuízos e, neste sentido, prevê que a opção por lockdown rigoroso não será adotada.
- A única forma da gente evitar de (o vírus) crescer é falar que o que ninguém quer ouvir. Que é hora do RS fechar as portas por duas ou três semanas. A gente está sempre citando o que não deu certo. (O lockdown) na França deu certo, em Nova York deu certo. Com lockdown rigoroso, eles colocaram a curva (do coronavírus) para descer - completou.
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Na conversa, o reitor também classificou como "totalmente política" a decisão do Ministério da Saúde por não renovar o contrato que previa a realização da pesquisa sobre a prevalência de coronavírus no Brasil. Depois de completar as três fases, a Epicovid-19, pesquisa coordenada pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), não deve mais receber o financiamento, conforme informou GaúchaZH.
Ainda que não tenha recebido um comunicado oficial da pasta, Hallal disse que já esperava o fim do custeio.
— A gente sabia que não iam financiar mais. Na coletiva da divulgação, o secretário falou na possibilidade, mas a gente notava que não iam renovar. Não gostaram dos resultados. Nossa interpretação isenta incomodou - disse à reportagem.