A imposição de isolamento social e as restrições para atividades de comércio e serviços como forma de evitar o contágio por coronavírus têm deixado empresários, empreendedores e trabalhadores de cabelo em pé, em especial nas últimas semanas em Porto Alegre. Já são quatro meses de medidas restritivas. Escreveu meu colega e jornalista David Coimbra que a Capital e seus governantes erraram ao fechar as portas cedo demais, pois muitos negócios, empregos e sonhos estão se esvaindo após tantas dias trancafiados em casa.
Fizemos essa pergunta ao prefeito Nelson Marchezan nesta segunda-feira, no programa Timeline, da Rádio Gaúcha. Afinal, fechamos cedo demais? Não seria melhor deixar os negócios abertos lá atrás (em março e abril), e restringir justamente agora quando a situação está mais crítica nos hospitais?
- Não. Porto Alegre fechou na hora certa. Estaríamos com UTIs lotadas em abril. Todas as cidades que não fecharam tiveram mortes em excesso. Porto Alegre não teve e não terá mortes em excesso - afirmou Marchezan durante a entrevista.
Antes mesmo de o prefeito responder a essa questão, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, no mesmo Timeline, rechaçou o apontamento e chegou a utilizar a metáfora do "engenheiro de obra pronta" para analisar a perspectiva. Na ocasião (uma entrevista que vale ser ouvida de novo aqui), Mandetta defendeu as regras de distanciamento como forma de evitar o avanço do novo coronavírus, em especial no momento em que os leitos de UTI enfrentam sua maior ocupação na Capital.
Voltemos ao prefeito e a pergunta sobre por que fechamos "cedo" e se isso era realmente necessário. Marchezan disse que era e foi uma medida acertada. E usou números para explicar por quê. O prefeito fez a comparação com outras cidades com população semelhante a de Porto Alegre (1,4 milhão de habitantes). Nesses locais, observou o prefeito, morreram duas a três mil pessoas. Em Porto Alegre, eram 212 mortos até o fim desse texto.
- Quando me perguntavam em abril, em maio, quantas vidas salvamos, eu jamais respondia a essa pergunta. Hoje eu posso responder: nós salvamos milhares de vidas. Quando comparamos com todas as cidades acima de 1 milhão, 1 milhão e meio de habitantes no Brasil, morreram duas a três mil pessoas a mais nesse período. Em Porto Alegre Alegre, não. Hoje eu afirmo convicto. O custo que a gente não pagou foi em vidas.
De fato, conforme números do portal G1, Manaus (1,7 milhão de habitantes) registrou 1.949 óbitos em decorrência do novo coronavírus até o último dia 18 de julho - e há quem diga que esse número possa estar subestimado já que nem todos os mortos foram testados. Até o sistema funerário da cidade entrou em colapso. Se fizéssemos o cálculo básico comparativo (entre Manaus e Porto Alegre), a Capital registrou 1.737 mortes a menos.
- Os negacionistas da pandemia dizem que somos "ditadores" por estarmos restringindo atividades. Sera que eu não seria ditador se decidisse quem vai viver e quem vai morrer? Posso errar muito como prefeito, mas como ser humano não vou chegar a esse erro. Não vou escolher ser ditador e aceitar que algumas vidas valem menos - disse Marchezan.