Quem percebeu foi o jornalista Ricardo Gandour. Ex-membro do Conselho Editorial de Zero Hora e “gaúcho por adoção”, ele visitou a Fundação José Saramago, nesta semana, em Lisboa (Portugal), quando bateu o olho em uma antiga agenda pessoal do escritor — dessas de papel, cheias de anotações e rabiscos.
Na tarde de 24 de abril de 1989, o saudoso autor marcou uma entrevista com “Zero Horas”, assim mesmo, com “s” (dá até para imaginar o sotaque português).
— Ele concedeu entrevistas a outros jornais do Brasil também, mas o "Zero Horas" me chamou a atenção — brinca Gandour, conhecido pelo trabalho em grandes jornais brasileiros e pela atuação como professor e consultor.
A gente foi atrás da história e encontrou o resultado da conversa: uma página inteira publicada em ZH em 26 de abril daquele ano, assinada por Juremir Machado da Silva, que atuava como repórter do jornal à época.
No título, a frase em destaque é “Vim do povo e sei como ele vive e pensa”, um petardo de Saramago, como tudo na sua literatura.
O texto de apresentação da entrevista diz assim:
"Objetivo, fluente como seu texto, José Saramago chegou a Porto Alegre ontem pela manhã. O escritor português veio ao Brasil lançar o seu livro História do Cerco de Lisboa e falar no I Congresso Estadual de Cultura, organizado pelo Conselho de Desenvolvimento Cultural do Rio Grande do Sul.
Hoje, às 14h, no Salão de Atos da UFRGS, Saramago contará suas tantas histórias, interpoladas por mitos, lendas, narrativas barrocas, paixão pelo cotidiano de personagens marginalizados e reis, rainhas, loucos e sonhadores."
Falecido em 2010, Saramago já chamava a atenção do mundo. Em 1998, ele seria laureado com o Prêmio Nobel de Literatura. Viria outras vezes ao Rio Grande do Sul, sempre com grande atenção do público e da imprensa, como em 1999, quando visitou o Palácio Piratini e foi recebido com pompa e orgulho.