Uma das instituições culturais mais tradicionais e simbólicas do Estado, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs),na Capital, ainda se recupera da enchente que cobriu o porão do prédio histórico, na Praça da Matriz. O que virá depois? Como garantir segurança ao precioso acervo público de 5,8 mil obras, até então ali resguardado? A resposta está a 50 passos de distância — e a um gesto de boa vontade da União.
Por décadas — 70 anos, para ser mais exata, celebrados em 2024 — o Margs manteve sua reserva técnica no subsolo. A inundação causou enormes danos, mas, graças ao empenho dos servidores, a maioria das peças foi salva. Às pressas, enquanto a água subia, eles levaram quase tudo para as áreas superiores. Quase.
Gravuras em papel, que ficavam em armários pesados, com grandes gavetas metálicas, não puderam ser removidas pelas escadas. Os arquivos foram erguidos, mas acabaram sendo atingidos pela água e, agora, os desenhos passam por um processo de recuperação.
Vi o esforço de perto e ouvi, da chefe da equipe, a conservadora restauradora Isis Fófano Gama, que mais de 90% das obras está fora de perigo. É um alento, porque o patrimônio do Margs também é parte da nossa história.
— É um alívio, mas não podemos, depois de tudo isso, simplesmente voltar a armazenar o acervo no subsolo — alerta o diretor da instituição, Francisco Dalcol, com razão.
Por enquanto, as peças estão espalhadas nos salões de exposição e no auditório, mas, com o apoio da secretária da Cultura, Bia Araújo, Dalcol planeja retomar uma velha reivindicação: incorporar a antiga sede da Alfândega ao museu, para guardar o acervo no segundo andar e abrir uma escola de artes no térreo, em parceria com a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs).
Em 2019, o edifício foi alvo de um abraço simbólico dos funcionários do Margs. O local fica nos fundos do museu, no Centro Histórico, e é belíssimo — tem tudo a ver com a valorização cultural da região e seria um atrativo a mais para a cidade.
À época, apesar da tentativa, a negociação foi descartada pelo governo federal. O espaço recebeu, então, a superintendência regional do Ministério da Saúde, que pode muito bem ser acomodada em outro espaço, inclusive mais moderno, cedido pelo Estado.
É hora de retomar a discussão.
Aliás
Há pautas mais urgentes do que discutir o futuro de um museu? Sim, e elas precisam ser prioridade neste momento, mas isso não invalida a discussão. O Margs é o principal museu do Estado, é público (mantido com o nosso dinheiro) e tem um valor simbólico incontestável.