— Eu não consigo precisar um número, mas são centenas — diz Francisco Dalcol, diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), sobre a quantidade de obras abrigadas no térreo da instituição que ficaram debaixo d’água durante a enchente de maio.
De acordo com o gestor do espaço, no dia 3 de maio, a sexta-feira em que a água avançou sobre Porto Alegre, ele e a sua equipe conseguiram remover centenas de obras do primeiro piso do local, entre pinturas e esculturas. Porém, as peças em papel, que ficavam dentro de armários pesados, com grandes gavetas metálicas, não puderam ser removidas pela dificuldade de transporte pela escada. Assim, foram erguidas em móveis, mas não foi o suficiente. A água chegou a 2 metros no espaço que, até hoje, está coberto de lodo.
Agora, estas obras atingidas que, em sua maioria, compõem o acervo em papel da instituição, entre gravuras, fotografias e desenhos, estão passando por um processo de recuperação, estando espalhadas pelo prédio. A iniciativa está sendo coordenada pela conservadora e restauradora do Departamento de Conservação e Memória do Patrimônio Cultural do Complexo do Palácio Piratini, Isis Fófano Gama, com supervisão da também conservadora Naida Corrêa, que atuou por 24 anos no Margs.
A equipe ainda é formada por funcionários do museu, do Piratini, colaboradores da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) e externos. Professores e alunos do curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), bem como integrantes da Associação para a Preservação do Patrimônio das Américas (APOYOnline), também auxiliam nos trabalhos em um laboratório improvisado no segundo andar da instituição.
— É uma força-tarefa de especialistas, porque a gente não pode perder tempo aqui. Temos que ser precisos. Procuramos voluntários que são próximos do assunto, para que a gente tenha muita precisão. Então, diferentemente de um incêndio, entendemos que todas estas obras são passíveis de recuperação — garante Dalcol.
A opinião do diretor do Margs é validada por Isis.
— O estado de conservação das peças, no geral, é bom. E, neste momento, não conseguimos quantificar perdas. A gente tem algumas situações com as fotografias, que vamos ter que avaliar, mas, caso haja uma perda nestas obras, existe a possibilidade de imprimir elas novamente — explica, salientando que a desinfecção das obras também será um ponto importante.
O acervo que mais sofreu danos, de fato, foi o das obras em papel, mas cerca de 15 pinturas também foram atingidas. Entretanto, segundo a conservadora, são recuperáveis. No momento, o trabalho é de estabilização e secagem e, no futuro, será avaliada a necessidade de restauração das peças. Os documentos atingidos foram removidos do prédio e congelados para posterior procedimento de limpeza e restabelecimento.
Já a estrutura operacional do museu, que também funcionava no térreo, está bastante comprometida. Computadores, equipamentos, mobiliários, recursos, materiais de trabalho e exposições foram perdidos. As partes das instalações elétrica, hidráulica, de lógica, telefonia, dos sistemas de climatização e do circuito interno de câmeras deverá passar por uma vistoria rigorosa e voltará a funcionar somente quando estiver operando em segurança. Atualmente, Margs está funcionando com um gerador.
Fechado e sem previsão de reabertura, o Margs deverá ter alterações. A ideia de Dalcol é mover a estrutura que funcionava no térreo para os andares superiores, incluindo a reserva técnica, que ficava no cofre.
— A minha vontade era fazer um memorial da enchente no térreo, para que a gente não esqueça do que houve — conta.