As enchentes que arrasaram cidades inteiras no Rio Grande do Sul levaram consigo não apenas vidas e bens materiais. Levaram recordações: fotos, objetos pessoais, móveis de família, utensílios passados de geração em geração, itens, enfim, que contam a história das pessoas. Coisas que nos fazem ser quem somos.
Para a nossa sorte, há anjos sem asas agindo para tentar salvar, em meio às dificuldades, o que sobrou da tragédia e restaurar a memória afetiva perdida nos entulhos.
Em Sinimbu, no Vale do Rio Pardo, a ação é liderada por Viviane Schuch Rizzolo, criadora de conteúdo conhecida por fazer artesanato a partir de materiais de reuso. Moradora de Santa Cruz do Sul, Vivi mantém ligações familiares com o município devastado e não teve dúvidas:
— Eu não podia ficar em casa. Quando cheguei, percebi que muita coisa que poderia ser recuperada estava indo direto para o lixo, porque não tinha alternativa. As pessoas precisavam limpar a cidade.
Para liberar as ruas (inclusive para as equipes de resgate), montanhas de objetos cobertos de lama foram levadas embora sem chance de triagem. Disposta a agir, Vivi encontrou pessoas pelo caminho prontas a ajudar, entre elas Luciana Kaempf Gastal, outra adepta do “fazer manual”. Lu também sofreu perdas. A antiga casa dos avós maternos (Norma e Rodolfo Neumann, já falecidos) foi atingida.
— A cidade ficou destruída, e as histórias estão se perdendo. Decidimos nos juntar para catar o que ainda dá para restaurar. Conseguimos um caminhão para salvar as coisas — conta Lu, autora do livro Relicário de Afetos.
Da casa dos avós, ela pôde recuperar pouco, porque quase nada restou. Entre os itens resgatados, estão os panos de croché da vó Norma, que serão revitalizados por Vivi. Mas a dupla conseguiu preservar muitos objetos espalhados nos arredores, que você vê nas imagens acima. As coisas serão limpas e arrumadas. Depois, serão definidos os próximos passos.
O desafio, agora, é conseguir mão de obra especializada, como marceneiros, por exemplo, para arrumar móveis avariados. Há muito o que fazer pela frente.
— A cidade está ficando deserta, com cada vez menos voluntários. Nosso medo é do esquecimento — lamenta Vivi, que tem 1,4 milhão de seguidores no Instagram.
Nós não vamos esquecer.