Em meio a tantas dúvidas que se acumulam nesse “novo normal” no qual nos metemos, uma pergunta, em especial, anda me atormentando: o trauma que vivemos produzirá mudanças?
Meu amigo Nílson Souza escreveu um belo artigo, na edição de terça-feira (7), em Zero Hora, projetando “a vida depois da água”.
Não seremos os mesmos, concluiu Nílson, porque olharemos para o céu com medo toda vez que nuvens escuras esconderem o sol. Será difícil (para não dizer impossível) esquecer a enxurrada que arrebentou tudo e as cenas do filme apocalíptico que vimos na TV (e no quintal de casa). Não era filme, era verdade.
Nílson acredita que podemos sair mais fortes, mais solidários e mais esperançosos de tudo isso. Lembrou dos exemplos de bravura e de solidariedade que emergiram da correnteza barrenta desde o primeiro minuto — da gente aguerrida e forte que se orgulha de ser gaúcha.
Será mesmo que sairemos melhores? Não falo só de solidariedade, mas de algo mais: das mudanças reais que o momento exige.
Passaremos a dar a atenção que as mudanças climáticas merecem? Definiremos nossos votos, a partir de agora, avaliando os planos de prevenção e adaptação à crise? Faremos nossa parte? Ou, passados alguns meses, voltaremos a viver como sempre vivemos, omissos e alheios ao colapso do planeta?
Lembro que, na pandemia, muito se falou sobre o futuro. Eu mesma previ uma humanidade “mais empática”, afinal, perdemos muita gente naquela luta coletiva e insana pela vida. Acreditei que os cuidados sanitários adotados a fórceps seriam perenes, inclusive o gesto de usar máscara como uma forma de cuidado com o outro. Errei.
É por isso que, hoje, tenho dúvidas sobre o que vem pela frente. Espero estar errada de novo, meu amigo Nílson. Espero que a gente mude e que seja para melhor.