Uma das instituições mais tradicionais e respeitadas de Porto Alegre, símbolo da solidariedade e do amor ao próximo, o Pão dos Pobres trava muitas lutas desde que a enchente tomou as ruas da Capital.
Além da limpeza do prédio histórico, que foi alagado, e do desafio de cuidar de 120 crianças que tiveram de ser transferidas devido à inundação, a entidade tenta salvar o que sobrou de seu acervo fotográfico. São centenas de imagens históricas atingidas pela água.
O material, que conta a trajetória da fundação criada em 1895, foi retirado da lama e levado para uma sala no segundo andar do edifício, onde está aos cuidados de 18 voluntários, entre museólogos, restauradores, conservadores, químicos e arquitetos, incluindo profissionais cadastrados pela Secretaria da Cultura, via Sistema Estadual de Museus.
No local, também se encontra um conjunto de quadros com as imagens dos benfeitores da instituição, que foram retirados das paredes do hall com a ajuda de um barco.
Os quadros não sofreram prejuízos, mas os álbuns de fotos ficaram molhados. Há imagens que retratam, por exemplo, as obras do famoso edifício, projetado por Joseph Lutzenberger, pai do ambientalista gaúcho José Lutzenberger. O local já havia sido afetado na enchente de 1941, mas dessa vez foi pior.
Para tentar preservar e restaurar o material, os profissionais separaram as páginas dos álbuns e penduraram em varais estendidos dentro da sala. A cena é surreal: estive lá no fim da tarde de terça-feira (21) e fiquei impressionada com o que vi e com o esforço e o cuidado dos envolvidos, que não ganham nada pelo trabalho, mas entendem que é seu dever ajudar.
Parte do material está sendo levada a congeladores na tentativa de suspender o processo de deterioração.
— Nosso desafio é fazer o máximo possível para salvar o acervo. Retiramos o material de um armário atingido pela água na segunda-feira (20) e ficamos até as 22h, no escuro, com lanternas, tentando separar e pendurar imagens para evitar que se desmanchassem — conta Bárbara Hoch, museóloga do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU-RS).
Ainda não se sabe a extensão exata dos danos. No futuro, segundo Lucas Volpatto, arquiteto responsável pela revitalização do prédio (a primeira fase das obras de restauração foi inaugurada em agosto de 2023), a intenção é criar um memorial para exibir o acervo, contando, também, com os detalhes da enchente de 2024.
Volpatto inclusive pediu auxílio à professora Vera Barroso, uma das idealizadoras do Centro Histórico-Cultural Santa Casa, com grande experiência na área de memória e patrimônio, que ajudou a mobilizar os voluntários e seguirá apoiando os trabalhos.
— O prédio já havia sido atingido em 41 e agora foi de novo. Vamos mostrar isso, mostrar até mesmo as imagens que ficarem afetadas, porque tudo é história — destaca Volpatto.
Os outros desafios
Com a ajuda de um mutirão de solidariedade, como mostrou a colunista Rosane de Oliveira, a instituição conseguiu realocar os 120 jovens que moram na fundação. Eles haviam ficado desalojados e foram abrigados provisoriamente no Colégio La Salle do bairro Santo Antônio. Depois, foram acolhidos na Fundação Fraternidade, na zona sul de Porto Alegre.
Para apoiar tanto as crianças quanto as necessidades de reparação do prédio, eles solicitam doações por meio de pix, com as chaves CNPJ 92666015/0001-01 ou e-mail paodospobres@paodospobres.com.br.
As redes sociais (@fundacaopaodospobres) e o site oficial (www.paodospobres.org.br) são os canais oficiais para comunicados sobre insumos e demais itens necessários aos atendidos do Pão dos Pobres.