A decisão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) de incluir na lista de leituras obrigatórias para o vestibular 2025 o livro O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, é um acerto - e um recado claro a quem acha “ok” censurar livros em pleno século 21.
Desde o início de março, a obra vem sendo alvo de interdição em diferentes Estados por conter trechos sobre sexo e palavras consideradas de “baixo calão”. A onda moralista começou em Santa Cruz do Sul e se disseminou.
Agora, ao menos no Rio Grande do Sul, professores e escolas que insistirem no erro acabarão por prejudicar seus alunos. O vestibular da UFRGS é um dos mais concorridos do país. Para passar, será preciso ler, sim, conhecer a fundo a obra de Tenório.
E será uma ótima oportunidade, também, para que estudantes e mestres leiam juntos e se surpreendam com a força e a importância da narrativa do autor, aliás, premiado e aclamado pela crítica.
O texto aborda um tema que deve, sim, ser tratado em sala de aula: o racismo estrutural, aquele que vive em nós, mesmo que a gente não se dê conta.
Não se trata, nem de longe, de um texto sobre sexualidade, mas, ainda que fosse, com quem e em que ambiente você gostaria que seu filho adolescente conversasse sobre o assunto? Na rua? Ou na escola, com o olhar cuidadoso de um mestre?
Já escrevi isso e repito: querer proteger os jovens de conteúdos considerados “inadequados” a partir de opiniões pessoais e, muitas vezes, de leituras fora de contexto é um equívoco. Ainda que o tema não seja simples, ler O Avesso da Pele é uma oportunidade para discutir racismo e violência.
Os tais termos de "baixo calão" não entraram na história de forma gratuita. Eles são parte de uma realidade sobre a qual não devemos "ficar escandalizados", mas tentar compreender para mudar.
Outras inclusões
Além de O Avesso da Pele, a universidade incluiu na lista obrigatória Niketche: Uma História de Poligamia, de Paulina Chiziane; Mas em Que Mundo Tu Vive, de José Falero; e Seleta de Canções de Lupicínio Rodrigues.
A lista completa de leituras obrigatórias do vestibular de 2025
- Niketche: Uma História de Poligamia, de Paulina Chiziane
- O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório
- Mas em Que Mundo Tu Vive, de José Falero
- A Terra dos Mil Povos, de Kaká Werá
- Água Funda, de Ruth Guimarães
- Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez
- Um Útero É do Tamanho de um Punho, de Angélica Freitas
- Lisístrata, de Aristófanes
- Várias Histórias, de Machado de Assis
- A Falência, de Júlia Lopes de Almeida
- Coral e Outros Poemas, de Sophia de Mello Breyner Andresen
- Seleta de canções, de Lupicínio Rodrigues
- Cadeira Vazia (com Alcides Gonçalves)
- Castigo (com Alcides Gonçalves)
- Cevando o Amargo (com Piratini)
- Dona Divergência (com Felisberto Martins)
- Ela Disse-me Assim (Vai embora)
- Esses Moços (Pobres moços)
- Foi Assim
- Loucura
- Maria Rosa (com Alcides Gonçalves)
- Migalhas (com Felisberto Martins)
- Namorados
- Nervos de Aço
- Nunca
- Se Acaso Você Chegasse (com Felisberto Martins)
- Vingança
- (Xote da) Felicidade