A dupla de ativistas que jogou sopa de abóbora na Mona Lisa - a mais célebre pintura do Museu do Louvre, em Paris - deveria ouvir aquela canção dos Titãs. Com tradução simultânea, de preferência. E no volume máximo.
Você sabe, "a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte". Para refrescar a memória: "Comida" foi lançada pela banda paulista em 1987, tornando-se um clássico do rock nacional e um hino para quem deseja uma vida plena - muito além das necessidades básicas.
Pois as manifestantes que "ensoparam" La Gioconda disseram que o ato, realizado no último domingo (28), foi um protesto para exigir o "direito a uma alimentação saudável e sustentável". Elas pertencem a um grupo francês chamado Riposte Alimentaire (algo como "resposta alimentar").
— O que é mais importante? A arte ou o direito a uma alimentação saudável e sustentável? — perguntaram elas, diante da obra-prima de Leonardo Da Vinci.
Quanta ignorância.
O quadro nada sofreu, é bom que se diga. Há anos, é protegido por vidro blindado. Ainda assim, não deixa de ser uma tentativa midiática de vandalismo, e o pior: com resultados questionáveis.
Quem defende esse tipo de ação - como já escrevi aqui, quando uma tela de Diego Velázquez foi martelada em Londres - argumenta que as obras não são danificadas (devido às camadas de segurança) e diz que o objetivo é gerar imagens chocantes, que circulem na mídia e viralizem nas redes. A ideia, portanto, é chamar a atenção para a causa por trás dos ataques.
No caso da obra de Velázquez, o protesto realizado em novembro de 2023 exigiu o fim da exploração de petróleo no mundo. Antes disso, em maio de 2022, um homem já havia atirado uma torta na Mona Lisa, pedindo que as pessoas pensassem no planeta e parassem de destruir o meio ambiente. Agora, a Gioconda foi outra vez lambuzada.
As causas são nobres, é verdade. A questão é que os efeitos, na prática, têm sido nulos. Ou por acaso mudou alguma coisa depois disso? O que precisamos é pular para a próxima etapa, que é a busca por soluções. Protestos infantis não vão resolver nada.
No caso da sopa na Mona Lista, o problema é ainda pior, porque as ativistas criaram a ideia de uma falsa oposição. Precisamos tanto de uma alimentação saudável quanto da arte. Não basta comer bem. É preciso viver bem e isso inclui, sim, ter acesso à cultura. São dois direitos invioláveis.
A letra dos Titãs dá o recado. A gente não quer só comer, não.